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quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Arautos de um era melhor - Parte III

O papa conferira a esses monges a faculdade de ouvir confissões e conceder perdão. Isto se tornou fonte de grandes males. Inclinados a aumentar seus lucros, os frades estavam tão dispostos a conceder absolvição que criminosos de todas as espécies a eles recorriam e, como resultado, aumentavam rapidamente os vícios mais detestáveis. Os doentes e os pobres eram deixados a sofrer, enquanto que os donativos que lhes deveriam suavizar as necessidades, iam para os monges que com ameaça exigiam esmolas do povo, denunciando a impiedade dos que retivessem os donativos de suas ordens. Apesar de sua profissão de pobreza, a riqueza dos frades aumentava constantemente e seus suntuosos edifícios e lautas mesas tornavam mais notória a pobreza da nação. E enquanto despendiam o tempo em luxo e prazeres, enviavam em seu lugar homens ignorantes que apenas podiam narrar histórias maravilhosas, lendas, pilhérias para divertir o povo, e dele fazer ainda mais completamente o iludido dos monges. Contudo os frades continuavam a manter o domínio das multidões supersticiosas, e a levá-las a crer que todo o dever religioso se resumia em reconhecer a supremacia do papa, adorar os santos e fazer donativos aos monges, e que isto era suficiente para garantir lugar no Céu.

Homens de saber e piedade haviam trabalhado em vão para efetuar uma reforma nessas ordens monásticas; Wiclef, porém, com intuição mais clara, feriu o mal pela raiz, declarando que própria organização era falsa e que deveria ser abolida. Despertavam-se discussões e indagações. Atravessando os monges o país, vendendo perdões do papa, muitos foram levados a duvidar da possibilidade de comprar perdão com dinheiro e suscitaram a questão se não deveriam antes buscar de Deus o perdão em vez de buscá-lo do pontífice de Roma. Não pouco se alarmaram com a capacidade dos frades, cuja avidez parecia nunca se satisfazer. “Os monges e sacerdotes de Roma”, diziam eles, “estão nos comendo como um cancro. Deus nos deve livrar ou povo perecerá.” - D'Aubigné. Para encobrir sua avareza, pretendiam os monges mendicantes seguir o exemplo do Salvador, declarando que Jesus e Seus discípulos haviam sido sustentados pela caridade do povo. Esta pretensão resultou em prejuízo da sua causa, pois levou muitos a Escritura Sagrada, a fim de saberem por si mesmos a verdade – resultado que de todos os outros era o menos desejado de Roma. A mente dos homens foi dirigida à Fonte da verdade, que era o objetivo Roma ocultar.

Wiclef começou a escrever e publicar folhetos contra os frades, porém não tanto procurando entrar em discussão com eles como despertando o espírito do povo aos ensinos da Bíblia e seu Autor. Ele declarava que o poder do perdão ou excomunhão não o possuía o papa em maior grau do que os sacerdotes comuns, e que ninguém pode ser verdadeiramente excomungado a menos que haja trazido sobre si a condenação de Deus. De nenhuma outra maneira mais eficaz poderia ter empreendido a demolição da gigantesca estrutura de dominação espiritual e temporal que o papa erigira, e em que a alma e corpo de milhões se achavam retidos em cativeiro.

De novo foi Wiclef chamado para defender os direitos da coroa inglesa contra as usurpações de Roma; e, sendo designado embaixador real, passou dois anos na Holanda, em conferência com os emissários do papa. Ali entrou em contato com os eclesiásticos da França, Itália e Espanha, e teve oportunidade de devassar os bastidores e informar-se de muitos fatos que lhe teriam permanecido ocultos na Inglaterra. Aprendeu muita coisa que o orientaria em seus trabalhos posteriores. Naqueles representantes da corte papal lia ele o verdadeiro caráter e objeto de hierarquia. Voltou para a Inglaterra a fim de repetir mais abertamente e com maior zelo seus ensinos anteriores, declarando que a cobiça, o orgulho e o engano eram os deuses de Roma.

Num de seus folhetos disse ele, falando do papa e de seus coletores: “Retiraram de nosso país os meios de subsistência dos pobres, e muitos milhares de marcos, anualmente, do dinheiro do rei, para sacramentos e coisas espirituais, o que é amaldiçoada heresia de simonia, e fazem com que toda a cristandade consinta nesta heresia e a mantenha. E, na verdade, ainda que nosso reino tivesse uma gigantesca montanha de ouro, e nunca homem algum dali tirasse a não ser o coletor deste orgulhoso e mundano sacerdote, com o tempo ela se esgotaria; pois sempre ele tira dinheiro de nosso país e nada devolve a não ser a maldição de Deus pela sua simonia.” - História da Vida e sofrimentos de Jhon Wiclef, do Rev. João Lewis.



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