Powered By Blogger

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Arautos de uma era melhor - Parte VI

Novamente os chefes papais conspiraram para silenciar a voz do reformador. Perante três tribunais foi ele sucessivamente chamado a juízo, mas sem proveito. Primeiramente um sínodo de bispos declarou heréticos os seus escritos e, ganhado o jovem Ricardo II para o seu lado obtiveram um decreto real sentenciando à prisão os que professassem as doutrinas condenadas.

Wiclef apelou do sínodo para o Parlamento; destemidamente acusou a hierarquia perante o conselho nacional e pediu uma reforma dos enormes abusos sancionados pela igreja. Com poder convincente, descreveu as usurpações e corrupções da sé papal. Seus inimigos ficaram confusos. Os que eram amigos de Wiclef e o apoiavam tinham sido obrigados a ceder, e houvera a confiante expectativa de que o próprio reformador, em sua avançada idade, só e sem amigos, curvar-se-ia perante a autoridade combinada da coroa e da tiara. Mas em vez disso, os adeptos de Roma viram-se derrotados. O Parlamento despertado pelos estimuladores apelos de Wiclef, repeliu o edito perseguidor e o reformador foi posto novamente em liberdade.

Pela terceira vez foi ele chamado a julgamento, e agora perante o mais elevado tribunal eclesiástico do reino. Ali não se mostraria favor algum para com a heresia. Ali, finalmente, Roma triunfaria e a obra do reformador seria detida. Assim pensavam os romanistas. Se tão-somente cumprissem o seu propósito, Wiclef seria obrigado a abjurar as suas doutrinas, ou sairia da corte diretamente para as chamas.

Wiclef, porém, não se retratou; não usou de dissimulação. Destemidamente sustentou os seus ensinos e repeliu as acusações de seus perseguidores. Perdendo de vista a si próprio, sua posição e o momento, citou os ouvintes perante o tribunal divino, e pesou seus sofismas e enganos na balança da verdade eterna. Sentiu-se o poder do Espírito Santo na sala do concílio. Os ouvintes ficaram como que fascinados. Pareciam não ter forças para deixar o local. Como setas da aljava do Senhor, as palavras do reformador penetrava-lhes a alma. A acusação de heresia que contra ele haviam formulado, com poder convincente reverteu contra eles mesmos. Por que, perguntava ele, ousavam espalhar seus erros? Por amor do lucro, para da graça de Deus fazerem mercadoria?

“Com quem,” disse finalmente, “julgais estar a contender? Com um ancião às bordas da sepultura? Não! Com a verdade – verdade que é mais forte do que vós, e vos vencerá.” – Wylie. Assim dizendo, retirou-se da assembléia e nenhum dos seus adversários tentou impedi-lo.

A obra de Wiclef estava quase terminada; a bandeira da verdade que durante tanto empunhara, logo lhe deveria cair da mão; mas, uma vez mais, deveria ele dar testemunho do Evangelho. A verdade deveria ser proclamada do próprio reduto do reino do erro. Wiclef foi chamado perante o tribunal papal em Roma, o qual tantas vezes derramara o sangue dos santos. Não ignorava o perigo que o ameaçava; contudo, teria atendido ao chamado se um ataque de paralisia lhe não houvesse tornado impossível efetuar a viagem. Mas, se bem que sua voz não devesse ser ouvida em Roma, poderia falar por carta, e isto se decidiu a fazer. De sua reitoria o reformador escreveu ao papa uma carta que, conquanto respeitosa nas expressões e cristã no espírito, era incisiva censura à pompa e orgulho da sé papal.

“Em verdade me regozijo,” disse, “por manifestar e declarar a todo homem a fé que mantenho, e especialmente ao bispo de Roma, o qual, como suponho ser íntegro e verdadeiro, de muita boa vontade confirmará minha dita fé, ou, se ela é errônea, corrigi-la-á.

“Em primeiro lugar, creio que o Evangelho de Cristo é o corpo todo da lei de Deus. ... Declaro e sustento que o bispo de Roma, desde que se considera o vigário de Cristo aqui na Terra, está obrigado, mais do que todos os outros homens, à lei do Evangelho. Pois a grandeza entre os discípulos de Cristo não consistia na dignidade e honras mundanas, mas em seguir rigorosamente, e de perto, a Cristo e suas maneiras. ... Jesus, durante o tempo de Sua peregrinação na Terra foi homem paupérrimo, desdenhando e lançando de Si todo o domínio e honra mundanos.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não serão aceitos comentários ofensivos.
Não serão aceitos comentários sem os referidos autores, mesmo os anônimos.