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sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Arautos de uma era melhor - Parte V

Mas a maior obra de Wiclef deveria ser a tradução das Escrituras para a língua inglesa. Num – sobre a verdade e sentido das Escrituras – exprimiu a intenção de traduzir a Bíblia, de maneira que todos na Inglaterra pudessem ler, na língua materna, as maravilhosas obras de Deus.

Subitamente, porém, interromperam suas atividades. Posto que não tivesse ainda sessenta anos de idade, o trabalho incessante, o estudo e os assaltos dos inimigos haviam posto à prova as suas forças, tornando-o prematuramente velho. Foi atacado de perigosa enfermidade. A notícia disto proporcionou grande alegria aos frades. Pensavam então que se arrependeria amargamente do mal que tinha feito à igreja e precipitaram-se ao seu quarto para ouvir-lhe a confissão. Representantes das quatro ordens religiosas, com quatro oficiais civis, reuniram-se em redor do suposto moribundo. “Tendes a morte em vossos lábios,” diziam; “comovei-vos com as vossas faltas, e retratai em nossa presença tudo o que dissestes para ofensa nossa.” O reformador ouviu como silêncio; mandou seu assistente levantá-lo do leito e, olhando fixamente para eles enquanto permaneciam esperando a retratação, naquela voz firme e forte que tantas vezes os havia feito tremer, disse: “Não hei de morrer, mas viver, e novamente denunciar as más ações dos frades.” D’Aubugné. Espantados e confundidos, saíram os monges apressadamente do quarto.

Cumpriram-se as palavras de Wiclef. Viveu a fim de colocar nas mãos de seus compatriotas a mais poderosa de todas as armas contra Roma, isto é, dar-lhes a Escritura Sagrada, o meio indicado pelo Céu para libertar, esclarecer e evangelizar o povo. Muitos e grandes obstáculos havia de vencer na realização dessa obra. Wiclef achava-se sobrecarregado de enfermidades; sabia que apenas poucos anos lhe restavam para o trabalho; via a oposição que teria de enfrentar; mas, animado pelas promessas de Deus, foi avante sem intimidar-se de coisa alguma. Quando em pleno vigor de suas capacidades intelectuais, rico em experiências, foi ele preservado e preparado por especial providência de Deus para esse trabalho – o maior por ele realizado. Enquanto a cristandade se envolvia em tumultos, o reformador em sua reitoria de Lutterworth, alheio a tempestade que fora esbravejava, dedicava-se à tarefa que escolhera.

Concluiu-se por fim o trabalho: a primeira tradução inglesa que já se fizera da Escritura Sagrada. A palavra de Deus estava aberta para a Inglaterra. O reformador não temia agora prisão ou fogueira. Colocara nas mãos do povo inglês uma luz que jamais se extinguiria. Dando a Bíblia aos seus compatriotas, fizera mais no sentido de quebrar os grilhões da ignorância e do vício, mais para libertar e enobrecer seu país, do que já se conseguira pelas mais brilhantes vitórias no campo de batalha.

Sendo ainda desconhecida a arte de imprimir, era unicamente por trabalho moroso e fatigante que se podiam multiplicar os exemplares da Escritura Sagrada. Tão grande era o interesse por obter o Livro, que muitos voluntariamente se empenharam na obra de transcrever; mas era com dificuldade que os copistas podiam atender aos pedidos. Alguns dos mais ricos compradores desejavam a Bíblia toda. Outros compravam apenas partes. Em muitos casos várias famílias se uniam para comprar um exemplar. Assim, a Bíblia de Wiclef teve acesso aos lares do povo.

O apelo para a razão despertou os homens de sua submissão aos dogmas papais. Wiclef ensinava agora doutrinas distintivas do protestantismo: salvação pela fé em Cristo, e a infalibilidade das Escrituras unicamente.

Os pregadores que enviara disseminaram a Bíblia, juntamente com os escritos do reformador, e com êxito tal que a nova fé foi aceita por quase metade do povo da Inglaterra.

O aparecimento das Escrituras produziu estupefação às autoridades da igreja. Tinham agora que enfrentar um fator mais poderoso do que Wiclef, fator contra o qual suas armas pouco valeriam. Não havia nesta ocasião na Inglaterra lei alguma proibindo a Bíblia, pois nunca dantes fora ela publicada na língua do povo. Semelhantes leis foram depois feitas e rigorosamente executadas. Entretanto, apesar dos esforços dos padres, houve durante algum tempo oportunidade para a circulação da Palavra de Deus.

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