Powered By Blogger

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Predito o Destino do Mundo - Parte I

“Ah! Se conhecesses também, ao menos neste dia, o que à tua paz pertence! Mas agora isto está encoberto aos teus olhos. Porque dias virão sobre ti, em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, e te sitiarão, e te estreitarão de todas as bandas; e te derribarão a ti e aos teus filhos que dentro de ti estiverem; e não deixarão sobre ti pedra sobre pedra, pois que não conheceste o tempo da tua visitação.” Lucas 19:42-44.

Do cimo do monte das Oliveiras. Jesus olhava sobre Jerusalém. Lindo e calmo era o cenário que diante dEle se desdobrava. Era o tempo da Páscoa, e de todas as terras os filhos de Jacó se haviam ali reunido para celebrar a grande festa nacional. Em meio de hortos e vinhedos, declives verdejantes juncados das tendas dos peregrinos, erguiam-se as colinas terraplenadas, os majestosos palácios e os maciços baluartes da capital de Israel. A filha de Sião parecia dizer em seu orgulho: “Estou assentada como rainha, e não... verei o pranto,” sendo ela tão formosa então e julgando-se tão segura do favor do Céu como quando, séculos antes, o trovador real cantara: “Formoso de sítio e alegria de toda a Terra é o monte de Sião... a cidade do grande Rei.” Salmo 48:02. Bem à vista estavam os magnificentes edifícios do templo. Os raios do sol poente iluminavam a brancura de neve de suas paredes de mármore e punham reflexos no portal de ouro, na torre do pináculo. Qual “perfeição de formosura,” levanta-se ele como o orgulho da nação judaica. Que filho de Israel poderia contemplar aquele cenário sem um estremecimento de alegria e admiração?! Entretanto pensamentos muito diversos ocupavam a mente de Jesus. “Quando ia chegando, vendo a cidade, chorou sobre ela.” Lucas 19:41. Por entre o regozijo de Sua entrada triunfal, enquanto se agitavam ramos de Palmeiras, enquanto alegres hosanas despertavam ecos nas colinas, e milhares de vozes O aclamavam Rei, o Redentor do mundo achava-se oprimido por súbita e misteriosa tristeza. Ele, o filho de Deus, o Prometido de Israel, cujo poder vencera a morte e do túmulo chamara a seus cativos, estava em pranto, não em conseqüência de uma mágoa comum, senão de agonia intensa, irreprimível.

Suas lágrimas não eram por Si mesmo, posto que bem soubesse para onde Seus passos O levariam. Diante dEle jazia o Getsêmani, cenário de Sua próxima agonia. Estava também à vista a porta das ovelhas, através da qual durante séculos tinham sido conduzidos as vítimas para o sacrifício, e que Lhe deveria abrir quando fosse “como um cordeiro” “levado ao matadouro.” Isaías 53:07. Não muito distante estava o Calvário, o local da crucifixão. Sobre o caminho que Cristo logo deveria trilhar, cairia o terror de grandes trevas ao fazer Ele de Sua alma uma oferta pelo pecado. Todavia, não era a contemplação destas cenas que lançava sobre Ele aquela sombra, em tal hora de alegria. Nenhum presságio de Sua própria angústia sobre-humana nublava aquele espírito abnegado. Chorava pela sorte dos milhares de Jerusalém – por causa da cegueira e impenitência daqueles que Ele viera abençoar e salvar.

A história de mais de mil anos do favor especial de Deus e de Seu cuidado protetor manifestos ao povo escolhido, estava patente aos olhos de Jesus. Ali estava o monte Moriá, onde o filho da promessa, como vítima submissa, havia sido ligado ao altar – emblema da oferenda do Filho de Deus. (Gênesis 22:09). Ali, o concerto de bênçãos e a gloriosa promessa messiânica tinham sido confirmados ao pai dos crentes (Gênesis 22:16-18). Ali as chamas do sacrifício, ascendendo da eira de Ornã para o céu, haviam desviado a espada do anjo destruidor (I Crônicas 21) – símbolo apropriado do sacrifício e mediação do Salvador em prol do homem culpado. Jerusalém fora honrada por Deus acima de toda a Terra. Sião fora eleita pelo Senhor, que a deseja “para Sua habitação” (Salmo 132:13). Ali, durante séculos, santos profetas haviam proferido mensagens de advertência. Sacerdotes ali haviam agitado os turíbulos, e a nuvem de incenso, com as orações dos adoradores, subira perante Deus. Ali, diariamente, se oferecera o sangue dos cordeiros mortos, apontando para o Cordeiro de Deus. Ali, Jeová revelara Sua presença na nuvem de glória, sobre o propiciatório. Repousara ali a base daquela escada mística, ligando a Terra ao Céu (Gênesis 28:12; João 1:51) – escada pela qual os anjos de Deus desciam e subiam, e que abriam ao mundo o caminho para o lugar santíssimo. Houvesse Israel, como nação, preservado a aliança com o Céu, Jerusalém teria permanecido para sempre como a eleita de Deus (Jeremias 17:21-25). Mas a história daquele povo favorecido foi um registro de apostasias e rebelião. Haviam resistido à graça do Céu, abusado de seus privilégios e menosprezado as oportunidades.

Posto que Israel houvesse zombado dos mensageiros de Deus, desprezado Suas palavras e perseguido Seus profetas (II Crônicas 36:16), Ele ainda Se lhes manifestara como “o Senhor Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade” (Êxodo 34:06); apesar das repetidas rejeições, Sua misericórdia continuou a interceder. Com mais enternecido amor do que o de pai pelo filho de seus cuidados, Deus lhes havia enviado “Sua palavra pelos seus mensageiros, madrugando e enviando-lhes; porque se compadeceu de Seu povo e de Sua habitação.” II Crônicas 36:15. Quando admoestações, rogos e censuras haviam falhado, enviou-lhes o melhor Dom do Céu, mais ainda, derramou todo o Céu naquEle único Dom.

O próprio filho de Deus foi enviado para instar com a cidade impenitente. Foi Cristo que trouxe Israel, como uma boa vinha, do Egito (Salmo 80:08). Sua própria mão havia lançado os gentios de diante deles. Plantou-a “em um outeiro fértil”. Seu protetor cuidado cercara-a em redor. Enviou seus servos para cultivá-la. “Que mais se poderia fazer à minha vinha,” exclama Ele, “que Eu não lhe tenha feito?” Posto que quando Ele esperou que “desse uvas, veio a produzir uvas bravas” (Isaías 5:01-04), ainda com esperança compassiva de encontrar frutos, veio em pessoa à Sua vinha para que porventura pudesse ser salva da destruição. Cavou em redor dela, podou-a e protegeu-a. Foi incansável em seus esforços para salvar esta vinha que Ele próprio plantara.

Durante três anos o Senhor da luz e glória entrara e saíra por entre o Seu povo. Ele “andou fazendo o bem, e curando todos os oprimidos do diabo” (Atos 10:38), aliviando os quebrantados de coração, pondo em liberdade os que se achavam presos, restaurando a vista aos cegos, fazendo andar aos coxos e ouvir aos surdos, purificando os leprosos, ressuscitando os mortos e pregando o evangelho aos pobres (Lucas 4:18; Mateus 11:05). A todas estas classes foi dirigido o gracioso convite: “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei.” Mateus 11:28.

Conquanto Lhe fosse recompensado o bem com o mal e o seu amor com o ódio (Salmo 109:05), Ele prosseguiu firmemente em Sua missão de misericórdia. Jamais eram repelidos os que buscavam a Sua graça. Como viandante sem lar, tendo a ignomínia e a penúria como porção diária, viveu Ele para ministrar as necessidades e abrandar as desgraças humanas para insistir com os homens a aceitarem o Dom da vida. As ondas de misericórdia, rebatidas por aqueles corações obstinados, retornavam em uma vaga mais forte de terno e inexprimível amor. Mas Israel se desviara de Seu melhor Amigo e Auxiliador. Os rogos de Seu amor haviam sido desprezados, Seus conselhos repelidos, ridicularizadas Suas advertências. A hora de esperança e perdão passava-se rapidamente, a taça da ira de Deus por tanto adiada, estava quase cheia. As nuvens que haviam estado a acumular-se durante séculos de apostasia e rebelião, ora enegrecidas de calamidades, estavam prestes a desabar sobre um povo criminoso; e Aquele que unicamente os poderia salvar da condenação iminente, fora menosprezado, injuriado, rejeitado e logo seria crucificado. Quando Cristo estivesse suspenso na cruz do Calvário, teria terminado o tempo de Israel como nação favorecida e abençoada por Deus. A perda de uma alma que seja é calamidade infinitamente maior que os proveitos e tesouros de todo um mundo; entretanto, quando Cristo olhava para Jerusalém, achava perante Ele a condenação de uma cidade inteira, de toda uma nação – sim aquela cidade e nação que foram as escolhidas de Deus, Seu tesouro peculiar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não serão aceitos comentários ofensivos.
Não serão aceitos comentários sem os referidos autores, mesmo os anônimos.