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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Dois Heróis da Idade Média - Parte I

O Evangelho fora implantado na Boêmia já no século nono. A Bíblia estava traduzida, e o culto público era celebrado na língua do povo. Mas à medida que aumentava o poderio do papa, a Palavra de Deus se obscurecia. Gregório VII, que tomara a si o abater o orgulho dos reis, não tinha menos intenções de escravizar o povo, e de acordo com isto expediu uma bula proibindo que o culto público fosse dirigido na língua boêmia. O papa declarava ser “agradável ao Onipotente que seu culto fosse celebrado em língua desconhecida, e que muitos males e heresias haviam surgido por não se observar esta regra.” Wylie. Assim Roma decretava que a luz da Palavra de Deus se extinguisse e o povo fosse encerrado em trevas. O Céu havia promovido outros fatores para a preservação da igreja. Muitos dos valdenses e dos albigenses, pela perseguição expulsos de seus lares na França, e Itália, foram à Boêmia. Posto que não ousassem ensinar abertamente, zelosos trabalhavam em segredo. Assim se preservou a fé de século em século.

Antes dos dias de Huss, houve na Boêmia homens que se levantaram para condenar abertamente a corrupção da igreja e dissolução do povo. Seus trabalhos despertaram interesse que se estendeu largamente. Suscitaram-se os temores da hierarquia e iniciou-se a perseguição contra os discípulos do Evangelho. Compelidos a fazer seu culto nas florestas e montanhas, davam-lhes caça aos soldados, e muitos foram mortos. Depois de algum tempo se decretou que todos os que se afastassem do culto romano deviam ser queimados. Mas, enquanto os cristãos rendiam a vida, olhavam à frente para a vitória de sua causa. Um dos que “ensinavam que a salvação só se encontra pela fé no Salvador crucificado,” declarou ao morrer: “A fúria dos inimigos da verdade agora prevalece contra nós, mas não será para sempre; levantar-se-á um dentre o povo comum, sem espada nem autoridade, e contra ele não poderão prevalecer.” - Wylie. O tempo de Lutero estava ainda muito distante; mas já se erguia alguém , cujo testemunho contra Roma abalaria as nações.

João Huss era de humilde nascimento e cedo ficou órfão pela morte do pai. Sua piedosa mãe, considerando a educação e o temor de Deus como a mais valiosa das posses, procurou assegurar esta herança para o filho. Huss estudou na escola da província, passando depois para a universidade de Praga, onde teve admissão gratuita como estudante pobre. Foi acompanhado na viagem por sua mãe; viúva e pobre, não possuía riquezas e honras mundanas para conferir ao filho; mas, aproximando-se eles da grande cidade, ajoelhou-se ela ao lado do jovem sem pai, e invocou-lhe a bênção do Pai celestial. Pouco imaginara aquela mãe como sua oração seria atendida.

Na universidade Huss se distinguiu pela sua incansável aplicação e rápidos progressos, enquanto a vida irrepreensível e modos afáveis e simpáticos lhe conquistaram estima geral. Era sincero adepto da igreja de Roma, e fervorosamente buscava as bênçãos espirituais que ela professava conferir. Na ocasião de um jubileu, foi à confissão, pagou as últimas poucas moedas de seus minguados recursos, e tomou parte nas procissões, a fim de participar da absolvição prometida. Depois de completar o curso colegial, entrou para o sacerdócio e, atingindo rapidamente a eminência, foi logo chamado à corte do rei. Tornou-se professor e mais tarde reitor da universidade em que recebera educação. Em poucos anos o humilde estudante, que de favor se educara, tornou-se o orgulho de seu país e seu nome teve fama em toda a Europa.

Foi, porém, em outro campo que Huss começou a obra da Reforma. Vários anos após haver recebido a ordenação sacerdotal, foi nomeado pregador da capela de Belém. O fundador desta capela defendera como assunto de grande importância, a pregação das Escrituras na língua do povo. Apesar da oposição de Roma a esta prática, ela não se interrompeu completamente na Boêmia. Havia, porém, grande ignorância das Escrituras, e os piores vícios prevaleciam entre o povo de todas as classes. Estes males Huss denunciou largamente, apelando para a Palavra de Deus a fim de encarecer os princípios da verdade e pureza por ele pregados.

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