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segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Como Começaram as Trevas Morais - Parte II

Este espírito de concessão ao paganismo abriu caminho para desrespeito ainda maior da autoridade do Céu. Satanás, não operando por meio da não consagrados dirigentes da igreja, intrometeu-se também com o quarto mandamento, e tentou por de lado o antigo sábado, o dia que Deus tinha abençoado e santificado (Gênesis 2:2 e 3), exaltando em seu lugar a festa observada pelos pagãos como “o venerável dia do Sol”. Esta mudança não foi a princípio tentada abertamente. Nos primeiros séculos o verdadeiro sábado foi guardado por todos os cristãos. Eram estes ciosos da honra de Deus, e, crendo que Sua lei é imutável, zelosamente preservavam a santidade de seus preceitos. Mas com grande argúcia, Satanás operava mediante os seus agentes para efetuar seu objetivo. Para que a atenção do povo pudesse ser chamada para do domingo, foi feito deste um festividade em honra da ressurreição de Cristo. Atos religiosos eram nele realizados; era, porém considerado como dia de recreio, sendo o sábado observado como dia santificado.

A fim de preparar o caminho para a obra que intentava cumprir, Satanás induzira os judeus, antes do advento de Cristo, a sobrecarregarem o sábado com as mais rigorosas imposições, tornando sua observância um fardo. Agora, tirando vantagem da falsa luz sob a qual ele assim fizera com que fosse considerado, lançou desdém sobre o sábado como instituição judaica. Enquanto os cristãos continuavam a observar o domingo como festividade prazenteira, ele os levou, a fim de mostrarem seu ódio ao judaísmo, a fazer do sábado dia de jejum, de tristeza e pesar.

Na primeira parte do século quarto, o imperador Constantino promulgou um decreto fazendo do domingo uma festividade pública em todo o Império Romano. O dia do sol era venerado por seus súditos pagãos e honrados pelos cristãos; era política do imperador unir os interesses em conflito do paganismo e cristianismo. Como ele se empenharam para fazer isto os bispos da igreja, os quais inspirados pela ambição e sede de poder, perceberam que, se o mesmo dia fosse observado tanto por cristãos como pagãos, promoveria a aceitação nominal do cristianismo pelos pagãos, e assim adiantaria o poderio e glória da igreja. Mas, conquanto muitos cristãos tementes a Deus fossem gradualmente levados a considerar o domingo como possuindo certo grau de santidade, ainda mantinham o verdadeiro sábado como dia santo do Senhor, e observavam-no em obediência ao quarto mandamento.

O arquienganador não havia terminado sua obra. Estava decidido a congregar o mundo cristão sob sua bandeira, e exercer o poder por intermédio de seu vigário, o orgulhoso pontífice que pretendia ser o representante de Cristo. Por meio de pagãos semi-conversos, ambiciosos prelados e eclesiásticos amantes do mundo, realizou ele seu propósito. Celebravam-se de tempos em tempos vastos concílios aos quais do mundo todo concorriam os dignitários da igreja. Em quase todos os concílios, o sábado que Deus havia instituído, era rebaixado um pouco mais, enquanto que o domingo era em idêntica proporção exaltado. Destarte a festividade pagã veio finalmente a ser honrada como instituição divina, ao mesmo tempo em que se declarava o sábado bíblico relíquia do judaísmo, amaldiçoando-se seus observadores.

O grande apóstata conseguira exaltar-se contra Deus ou “contra tudo o que se chama Deus ou se adora.” II Tessalonicenses 2:04. Ousara mudar o único preceito da lei divina que inequivocamente indica a toda a humanidade o Deus verdadeiro e vivo. No quarto mandamento Deus é revelado como o Criador do céu e da Terra, e por isso se distingue de todos os falsos deuses. Foi para memória da obra da criação que o sétimo dia foi santificado como dia de repouso para o homem. Destinava-se a conservar o Deus vivo diante da mente humana como a fonte de todo o ser e objeto de reverência e culto. Satanás esforça-se por desviar os homens de sua aliança para com Deus e de prestarem obediência a Sua lei; dirige seus esforços, portanto, especialmente contra o quarto mandamento que aponta a Deus como o Criador.

Os protestantes hoje insistem em que a ressurreição de Cristo no domingo fez dele o sábado cristão. Não existe, porém, evidência escriturística para isto. Nenhuma honra semelhante foi conferida ao dia por Cristo ou seus apóstolos. A observância do domingo como instituição cristã teve origem no “mistério da injustiça” (Tessalonicenses 2:07), que já no tempo de Paulo, começara a sua obra. Onde e quando adotou o Senhor este filho do papado? Que razão poderosa se poderia dar para uma mudança que as Escrituras não sancionam?

domingo, 30 de dezembro de 2007

Como Começaram as Trevas Morais

O apóstolo Paulo, em sua segunda carta aos tessalonicenses, predisse a grande apostasia que teria como resultado o estabelecimento do poder papal. Declarou que o dia de Cristo não viria “sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição; o qual se opõe e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus querendo parecer Deus.” II Tessalonicenses 2:3 e 4. E, ainda mais, o apóstolo adverte os irmãos de que “já o ministério da injustiça opera.” II Tessalonicenses 2:7. Mesmo naqueles primeiros tempos viu ele, insinuando-se na igreja, erros que preparariam o caminho para o desenvolvimento do papado.

Pouco a pouco, a princípio furtiva e silenciosamente, e depois mais às claras, à medida que crescia em força e conquistava o domínio da mente dos homens, o mistério da iniqüidade levou avante sua obra de engano e blasfêmia. Quase imperceptivelmente os costumes do paganismo tiveram ingresso na igreja cristã. O espírito de transigência e conformidade fora restringido durante algum tempo pelas terríveis perseguições que a igreja suportou sob paganismo. Mas em cessando a perseguição e entrando o cristianismo nas cortes e palácios dos reis, pôs ela de lado a humilde simplicidade de Cristo e Seus apóstolos, em troca da pompa e orgulho dos sacerdotes e governadores pagãos; e em lugar das ordenanças de Deus colocou teorias e tradições humanas. A conversão nominal de Constantino, na primeira parte do século quarto, causou grande regozijo; e o mundo, sob o manto de justiça aparente, introduziu-se na igreja. Progredia rapidamente a obra de corrupção. O paganismo porquanto parecesse suplantado, tornou-se o vencedor. Seu espírito dominava a igreja. Suas doutrinas, cerimônias e superstições incorporaram-se à fé e culto dos professos seguidores de Cristo.

Esta mútua transigência entre o paganismo e o cristianismo resultou no desenvolvimento do “homem do pecado,” predito na profecia como se opondo a Deus e exaltando-se sobre Ele. Aquele gigantesco sistema de religião falsa é a obra prima de Satanás – monumento de seus esforços para sentar-se sobre o trono e governar a Terra segundo a sua vontade.

Uma vez Satanás se esforçou por um compromisso com Cristo. Chegando-se ao filho de Deus no deserto da tentação, e mostrando-lhe todos os reinos do mundo e a glória dos mesmos, ofereceu-se a entregar tudo em Suas mãos se tão somente reconhecesse a supremacia do príncipe das trevas. Cristo repreendeu o pretensioso tentador e obrigou-o a retirar-se. Mas Satanás obtém maior êxito ao apresentar aos homens as mesmas tentações. Para conseguir proveitos e honras humanas, a igreja foi levada a buscar o favor e apoio dos grandes homens da Terra; e, havendo assim rejeitado a Cristo, foi induzida a prestar obediência ao representante de Satanás – bispo de Roma.

Uma das principais doutrinas do romanismo é que o papa é cabeça visível da igreja universal de Cristo, investido de autoridade suprema sobre os bispos e pastores em todas as partes do mundo. Mais do que isto, tem-se dado ao papa os próprios títulos da Divindade. Tem sido intitulado: “Senhor Deus o Papa”, e foi declarado infalível. Exige ele a homenagem de todos os homens. A mesma pretensão em que insistia Satanás no deserto da tentação, ele ainda a encarece mediante a igreja de Roma, e enorme número de pessoas estão prontas para render-lhe homenagem.

Mas o que temem e reverenciam a Deus enfrentam esta audaciosa presunção do mesmo modo por que Cristo enfrentou as solicitações do insidioso adversário: “Adorarás ao Senhor teu Deus, e a Ele somente servirás.” Lucas 4:08. Deus jamais deu em Sua Palavra a mínima sugestão de que tivesse designado a algum homem para ser cabeça da igreja. A doutrina da supremacia papal opõe-se diretamente ao ensino da Escrituras Sagradas. O papa não pode ter poder algum sobre a igreja de Cristo senão por usurpação.

Os romanistas têm persistido em acusar os protestantes de heresia e voluntária separação da verdadeira igreja. Semelhantes acusações, porém, aplicam-se antes a eles próprios. São eles os que depuseram a bandeira de Cristo, e se afastaram da “fé que uma vez foi entregue aos santos”. Judas 3.

Satanás bem sabia que as Escrituras Sagradas habilitariam os homens discernir seus enganos e resistir a seu poder. Foi pela palavra que mesmo o Salvador do mundo resistiu a seus ataques. Em cada ataque Cristo apresentou o escudo da verdade eterna, dizendo: “Está escrito”. A cada sugestão do adversário opunha a sabedoria e poder da Palavra. A fim de Satanás manter o seu domínio sobre os homens e estabelecer a autoridade humana, deveria conservá-los na ignorância das Escrituras. A Bíblia exaltaria a Deus e colocaria o homem finito em sua verdadeira posição; portanto, suas sagradas verdades deveriam ser ocultadas e suprimidas. Esta lógica foi adotada pela igreja de Roma. Durante séculos a circulação das Escrituras foi proibida. Ao povo de Deus era vedado ou tê-la em casa, e sacerdotes e prelados sem escrúpulos interpretavam-lhes os ensinos do modo a favorecerem suas pretensões. Assim o chefe da igreja veio a ser quase universalmente reconhecido como o vigário de Deus na Terra, dotado de autoridade sobre a igreja e o Estado.

Suprimido o revelador do erro, agiu Satanás, a seu bel-prazer. A profecia declara que o papado “havia de cuidar em mudar os tempos e a lei”. Daniel 7:25. Para cumprir esta obra não foi vagaroso. A fim de proporcionar aos conversos do paganismo uma substituição à adoração de ídolos, promover assim sua aceitação nominal do cristianismo, foi gradualmente introduzida no culto cristão a adoração das imagens e relíquias. O decreto de um concílio geral estabeleceu, por fim, este sistema de idolatria. Para completar a obra sacrílega, Roma pretendeu eliminar a lei de Deus, o segundo mandamento que proíbe o culto das imagens, e dividir o décimo mandamento a fim de conservar o número deles.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

O Valor do Mártires - Parte III

Depois de longo e tenaz conflito, os poucos fiéis decidiram-se dissolver toda união com a igreja apóstata, caso ela recusasse libertar-se da falsidade e idolatria. Viram que a separação era uma necessidade absoluta e desejavam obedecer à Palavra de Deus. Não ousavam tolerar erros fatais a sua própria alma, e dar exemplo que pusesse em perigo a fé de seus filhos e netos. Para assegurar a paz e a unidade, estavam prontos a fazer qualquer concessão coerente com a fidelidade para com Deus, mas acharam que mesmo a paz seria comprada demasiado caro com sacrifício dos princípios. Se a unidade só se pudesse conseguir comprometendo a verdade e a justiça, seria preferível que prevalecesse as diferenças e as conseqüentes lutas.

Bom seria à igreja e ao mundo se os princípios que atuavam naquelas almas inabaláveis revivessem no professo povo de Deus. Há alarmante indiferença em relação às doutrinas que são as colunas da fé cristã. Ganha terreno a opinião de que, em última análise não são de importância vital. Esta degenerescência está fortalecendo as mãos dos agentes de Satanás, de modo que falsas teorias e enganos fatais, que os fiéis dos séculos passados expunham e combatiam com riscos da própria vida, são hoje considerados como favor por milhões que pretendem ser seguidores de Cristo.

Os primeiros cristãos eram na verdade um povo peculiar. Sua conduta irrepreensível e fé invariável eram contínua reprovação a perturbar a paz dos pecadores. Se bem que poucos, sem riqueza, posição ou títulos honoríficos, constituíam um terror para o malfeitores onde quer que seu caráter e doutrinas fossem conhecidos. Eram, portanto, odiados pelos ímpios, assim como Abel o foi pelo ímpio Caim. Pela mesma razão porque Caim matou Abel, os que procuravam repelir a restrição do Espírito Santo mataram o povo de Deus. Pelo mesmo motivo foi que os judeus rejeitaram e crucificaram o Salvador: porque a pureza e santidade de seu caráter eram repreensão constante ao egoísmo e corrupção deles. Desde os dias de Cristo até hoje, os fiéis discípulos têm suscitado ódio e oposição dos que amam e seguem os caminhos do pecado.

Como, pois, pode o Evangelho ser chamado mensagem de paz? Quando Isaías predisse o nascimento do Messias conferiu-Lhe o título de “Príncipe da Paz.” Quando os anjos anunciaram aos pastores que Cristo nascera, cantaram sobre as planícies de Belém: “Glória a Deus nas alturas, paz na Terra, boa vontade para com os homens.” Lucas 2:14. Há uma aparente contradição entre estas declarações proféticas e as palavras de Cristo: “Não vim trazer paz, mas espada.” Mateus 10:34. Mas, entendidas corretamente, ambas estão em perfeita harmonia. O Evangelho é uma mensagem de paz. O cristianismo é um sistema religioso que, recebido e obedecido, espalharia paz, harmonia e felicidade por toda a Terra. A religião de Cristo ligará em íntima fraternidade todos os que lhe aceitarem os ensinos. Foi missão de Jesus reconciliar os homens com Deus, e assim uns com os outros. Mas o mundo em grande parte acha-se sob o domínio de Satanás, o acérrimo adversário de Cristo. O Evangelho apresenta-lhes princípios de vida que se acham em desacordo com os seus hábitos e desejos, e eles se erguem em rebelião contra ele. Odeiam a pureza que lhes revela e condena os pecados, e perseguem e destroem os que com eles insistirem em suas justas e santas reivindicações. É neste sentido que o Evangelho é chamado uma espada, visto que as elevadas verdades que traz ocasionam o ódio e a contenda.

A misteriosa providência que permite sofrer os justos perseguição às mãos dos ímpios, tem sido causa de grande perplexidade a muito que são fracos na fé. Alguns se dispõem mesmo a lançar de si a confiança em Deus, por permitir que os mais vis dos homens prosperem, enquanto os melhores e mais puros são afligidos e atormentados pelo cruel poder daqueles. Como, pergunta-se, pode Aquele que é Justo e Misericordioso, e que também é de poder infinito, tolerar tal injustiça e opressão? É esta uma questão com que nada temos que ver. Deus deu suficientes evidências de Seu amor, e não devemos duvidar de Sua bondade por não podermos compreender a operação de Sua providência. Disse o Salvador a Seus discípulos, prevendo as dúvidas que lhes oprimiriam a alma nos dias de provação e trevas: “Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não o servo maior do que o seu Senhor. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós.” João 15:20. Jesus sofreu por nós mais do que qualquer dos seus seguidores poderá sofrer pela crueldade de homens ímpios. Os que são chamados a suportar a tortura e o martírio não estão senão seguindo as pegadas do dileto Filho de Deus.

“O Senhor não retarda a Sua promessa.” II Pedro 3:09. Ele não se esquece de Seus filhos, nem os negligencia; mas permitem que os ímpios revelem seu verdadeiro caráter, para que ninguém que deseje fazer a Sua vontade possa ser iludido com relação a eles. Outrossim, os justos são postos na fornalha da aflição para que eles próprio possam ser purificados, para que seu exemplo possa convencer a outros da realidade da fé e piedade, e também para que sua coerente conduta possa condenar os ímpios e incrédulos.

Deus permite que os ímpios prosperem e revelem inimizado para com Ele, a fim de que, quando encherem a medida de sua iniqüidade, todos possam, em sua completa destruição, ver a justiça e a misericórdia divinas. Apressa-se o dia de Sua vingança, no qual todos os que transgrediram a lei divina e oprimiram o povo de Deus receberão a justa recompensa de suas ações; em que todo o ato de crueldade e injustiça para com os fiéis será punido como se fosse feito ao próprio Cristo.

Há uma outra questão mais importante que deveria ocupar a atenção da igrejas de hoje. O apóstolo Paulo declara que “todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições.” II Timóteo 3:12. Por que é, pois, que a perseguição em grande parte parece adormentada? A única razão é que a igreja se conformou com a norma do mundo, e, portanto, não suscita oposição. A religião que em nosso tempo prevalece não é do caráter puro e santo que assinalou a fé cristã nos dias de Cristo e de Seus apóstolos. É unicamente por causa do espírito de transigência com o pecado, por serem as grandes verdades da palavra de Deus tão indiferentemente consideradas, por haver tão pouca piedade vital na igreja, que o cristianismo é aparentemente tão popular no mundo. Haja um reavivamento da fé e poder da igreja primitiva, e o espírito de opressão reviverá, reacendendo as fogueiras da perseguição.

O Valor do Mártires - Parte II

Satanás, portanto, formulou seus planos para guerrear com mais êxito contra o governo de Deus, hasteando sua bandeira na igreja cristã. Se os seguidores de Cristo pudessem ser enganados e levados a desagradar a Deus, falhariam, então, em sua força, poder e firmeza, e eles cairiam como presa fácil.

O grande adversário se esforçou, então por obter pelo artifício aquilo que não lograra alcançar pela força. Cessou a perseguição, e em seu lugar foi posta a perigosa sedução da prosperidade temporal e honra mundana. Levavam-se idólatras a receber parte da fé cristã, enquanto rejeitavam outras verdades essenciais. Professavam aceitar a Jesus como Filho de Deus e crer em sua morte e ressurreição; mas não tinham a convicção do pecado e não sentiam necessidade de arrependimento ou de uma mudança do coração. Com algumas concessões de sua parte, propuseram que os cristãos fizessem outras também, para que todos pudessem unir-se sob a plataforma da crença em Cristo.

A igreja naquele tempo encontrava-se em terrível perigo. Prisão, tortura, fogo e espada eram bênçãos em comparação com isto. Alguns dos cristãos permaneceram firmes, declarando que não transigiriam. Outros eram favoráveis a que cedessem, ou modificassem algumas das características da sua fé, e se unissem aos que haviam aceito parte do cristianismo, insistindo em que este poderia ser o meio para a completa conversão. Foi um tempo de profunda angústia para os fiéis seguidores de Cristo. Sob a capa de pretenso cristianismo, Satanás se estava insinuando na igreja a fim de corromper-lhe a fé e desviar-lhe a mente da Palavra da verdade.

A maioria dos cristãos finalmente consentiu em baixar a norma, formando-se uma união entre cristianismo e paganismo. Posto que os adoradores de ídolos professassem estar convertidos e unidos à igreja, apegavam-se ainda à idolatria, mudando apenas os objetos de culto pelas imagens de Jesus, e mesmo de Maria e dos santos. O fermento vil da idolatria, assim trazidos para a igreja, continuou a obra funesta. Doutrinas errôneas, ritos supersticiosos e cerimônias idolátricas foram incorporados em sua fé e culto. Unindo-se os seguidores de Cristo aos idólatras, a religião cristã se tornou corrupta e a igreja perdeu. Alguns houve, entretanto, que não foram transviados por esses enganos. Mantinham-se ainda fiéis ao Autor da verdade, e adoravam a Deus somente.

Sempre tem havido entre os que professam seguidores de Cristo. Enquanto uma dessas classes estuda a vida do Salvador e fervorosamente procura corrigir seus defeitos e conformar-se com o Modelo, a outra evita as claras e práticas verdades que lhes expõe os erros. Mesmo em sua melhor condição a igreja não se compôs unicamente dos verdadeiros, puros e sinceros. Nosso Salvador ensinou que os que voluntariamente condescendem com o pecado não devem ser recebidos na igreja; todavia ligou a Si homens falhos de caráter e concedeu-lhes os benefícios de seus ensinos e exemplos, para que pudessem ter oportunidade de ver seus erros e corrigi-los. Entre os doze apóstolos havia um traidor. Judas foi aceito, não por causa dos seus defeitos de caráter, mas apesar deles. Foi ligado aos discípulos para que, pela instrução e exemplo de Cristo, pudesse aprender o constitui o caráter cristão e assim ser levado a ver seus erros, para arrepender-se e, pelo auxílio da graça divina, purificar a alma “na obediência à verdade.” Mas Judas não andou na luz que tão misericordiosamente foi permitido brilhasse sobre ele. Pela condescendência com o pecado, atraiu as tentações de Satanás. Seus maus traços de caráter se tornaram predominantes. Rendeu a mente ao poder das trevas, irava-se quando suas faltas eram reprovadas, sendo destarte levado a cometer o crime de trair o Mestre. Assim todos os que acariciam o mal sob profissão de piedade, odeiam os que lhe perturbam condenando seu caminho de pecado. Quando se apresenta oportunidade favorável, eles, semelhantes a Judas, traem aos que para o seu bem procura reprová-los.

Os apóstolos encontraram na igreja os que professavam piedade,ao mesmo tempo em que secretamente acariciavam a iniqüidade. Ananias e Safira desempenharam o papel de enganadores pretendendo fazer sacrifício total a Deus, quando cobiçosamente estavam retendo uma parte para si. O Espírito da verdade revelou aos apóstolos o caráter real desses impostores, e os juízos de Deus livraram a igreja dessa detestável mancha em sua pureza. Esta assinalada evidência do discernidor Espírito de Cristo na igreja foi um terror para os hipócritas e malfeitores. Não mais poderiam permanecer em ligação com aqueles que eram, em hábitos e disposição, invariáveis representantes de Cristo; e, quando as perseguições e provações vieram a Seus seguidores, apenas os que estavam dispostos a abandonar tudo por amor à verdade desejaram tornar-se seus discípulos. Assim, enquanto durou a perseguição, a igreja permaneceu comparativamente pura. Mas, cessando aquela, acrescentaram-se conversos que eram menos sinceros e devotados, e abriu-se o caminho para Satanás tomar pé.

Não há, porém, união entre o Príncipe da luz e o príncipe das trevas, e nenhuma convivência poderá haver entre os seus seguidores. Quando os cristãos consentiam em unir-se àqueles que não eram senão semi-conversos do paganismo, enveredaram por caminho que levaria mais e mais longe da verdade. Satanás exultou em haver conseguido enganar tão grande número dos seguidores de Cristo. Levou seu poder a agir de modo mais completo sobre eles, e os inspirou a perseguir aqueles que permaneceram fiéis a Deus. Ninguém compreendeu tão bem como se opor à verdadeira fé cristã como os que haviam sido seus defensores, e estes cristãos apóstatas, unindo-se aos companheiros semi-pagãos, dirigiram seus ataques contra os característicos mais importantes das doutrinas de Cristo.

Foi necessário um luta desesperada por parte daqueles que desejavam ser fiéis, permanecendo firmes contra os enganos e abominações que se disfarçavam sob as vestes sacerdotais e se introduziram na igreja. A Escritura Sagrada não era aceita como a norma de fé. A doutrina da liberdade religiosa era chamada heresia, sendo odiados e proscritos seus mantenedores.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

O Valor do Mártires

O VALOR DOS MÁRTIRES PARTE I

Quando Jesus revelou a seus discípulos a sorte de Jerusalém e as cenas do segundo advento, predisse também a experiência de Seu povo desde os tempos em que deveria ser retirado dentre eles até Sua volta em poder e glória para o seu libertamento. Do Monte das Oliveiras Salvador contemplou as tempestades prestes a desabar sobre a igreja apostólica; e penetrando mais profundamente no futuro, Seus olhos divisaram os terríveis e devastadores vendavais que deveriam açoitar os Seus seguidores nos vindouros séculos de trevas e perseguição. Em poucas e breves declarações de tremendo significado, predisse o que os governadores deste mundo haveriam de impor à igreja de Deus. (Mateus 24:9,21 e 22). Os seguidores de Cristo deveriam trilhar a mesma senda de humilhação, ignomínia e sofrimento que seu mestre palmilhara. A inimizade que irrompera contra o Redentor do mundo, manifestar-se-ia contra todos os que crescem em Seu nome.
A história da igreja primitiva testificou do cumprimento do Salvador. Os poderes da Terra e do inferno arregimentaram-se contra Cristo na pessoa de seus seguidores. O paganismo previa que se o Evangelho triunfasse, seus templos e altares desapareceriam; portanto convocou suas forças para destruir o cristianismo. Acenderam-se as fogueiras da perseguição. Os cristãos eram despojados de suas posses e expulsos de suas casas. Suportaram “grande combate de aflições.” Hebreus 10:32. “Experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões.” Hebreus 11:36. Grande número deles selaram seu testemunho com próprio sangue. Nobres e escravos, ricos e pobres, doutos e ignorantes, foram de igual modo mortos sem misericórdia.
Estas perseguições, iniciada sob o governo de Nero, aproximadamente ao tempo do martírio de Paulo continuaram com maior ou menor fúria durante séculos. Os cristãos eram falsamente acusados dos mais hediondos crimes e tidos como a causa das grandes calamidades – fomes, pestes e terremotos. Tornando-se eles objeto de ódio e suspeita popular, prontificaram-se denunciantes, por amor ao ganho, a trair os inocentes. Eram condenados como rebeldes ao império, como inimigos da religião e peste da sociedade. Grande número deles eram lançados às feras ou queimados vivos nos anfiteatros. Alguns eram crucificados, outros cobertos com peles de animais bravios e lançados à arena para serem despedaçados pelos cães de seu sofrimento muitas vezes se fazia a principal diversão nas festas públicas. Vastas multidões reuniam-se para gozar do espetáculo e saldavam os transes de sua agonia com riso e aplauso.
Onde quer que procurassem refúgio, os seguidores de Cristo eram caçados como animais. Eram forçados a procurar esconderijo nos lugares desolados e solitários. “Desamparados, aflitos e maltratados (dos quais o mundo não era digno), errantes, pelos desertos, e montes, e pelas covas e cavernas da terra” Hebreus 11:37 e 38. As catacumbas proporcionavam abrigo a milhares. Por sob as colinas, fora da cidade de Roma, longas galerias tinham sido feitas através da terra e da rocha; o escuro e complicado trama das comunicações estendia-se quilômetros além dos muros da cidade. Nestes retiros subterrâneos, os seguidores de Cristo sepultavam os seus mortos; e ali também, quando suspeitos e proscritos, encontravam lar. Quando o Doador da vida despertar os que pelejaram o bom combate, muitos que foram mártires por amor de Cristo sairão dessas sombrias cavernas.
Sob a mais atroz perseguição, estas testemunhas de Jesus conservaram incontaminada a sua fé. Posto que privados de todo o conforto, excluído da luz do sol, tendo o lar no seio da terra, obscuro, mas amigo, não proferiam queixa alguma. Com palavras de fé, paciência e esperança, animavam-se uns aos outros a suportar a privação e a angústia. A perda de toda a bênção terrestre não os poderia forçar a renunciar sua crença em Cristo. Provações e perseguição não eram senão passos que os levavam para mais perto de seu descanso e recompensa.
Como aconteceu aos servos de Deus de outrora, muitos “foram torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição.” Hebreus 11:35. Estes recordavam das palavras do Mestre, de que, quando perseguidos por amor de Cristo, ficassem muito alegres, pois que grande seria seu galardão no Céu, porque assim tinham perseguidos os profetas antes deles regozijavam-se de que fossem considerados dignos de sofrer pela verdade, e cânticos de triunfo ascendiam dentre as chamas crepitantes. Pela fé, olhando para cima, viam Cristo e os anjos apoiados pelas ameias do Céu, contemplando-os com o mais profundo interesse, com aprovação considerando a sua firmeza. Uma voz lhes vinha do trono de Deus: “Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida.” Apocalipse 2:10.
Baldados foram os esforços de Satanás para destruir pela violência a Igreja de Cristo. O grande conflito em que os discípulos de Jesus rendiam a vida, não cessavam quando estes fiéis porta-estandartes tombavam em seus postos. Com a derrota, venciam. Os obreiros de Deus eram mortos, mas a sua obra ia avante com firmeza. O Evangelho continuava a espelhar-se, e o número de seus aderentes a aumentar. Penetrou em regiões que eram inacessíveis, mesmo às águias romanas. Disse um cristão, contendendo com os governadores romanos que estavam a impulsionar a perseguição: Podeis “matar-nos, torturar-nos, condenar-nos. ... Vossa injustiça é prova de que somos inocentes. ... Tampouco vossa crueldade ... vos aproveitará.” Não era senão um convite mais forte para se lavarem outros a mesma persuasão. “Quanto mais somos ceifados por vós, tanto mais crescemos em número; o sangue dos cristãos é semente.” - Apologia, de Tertuliano, parágrafo 50.
Milhares eram aprisionados e mortos, mas outros surgiam para ocupar as vagas. E os que eram martirizados por sua fé tornavam-se aquisição de Cristo, por Ele tidos na conta de vencedores. Haviam pelejado o bom combate, e deveriam receber a coroa da glória quando Cristo viesse. Os sofrimentos que suportavam, levavam os cristãos mais perto uns dos outros e de seu Redentor. Seu exemplo em vida, e seu testemunho ao morrerem, eram constante atestado à verdade; e, onde menos se esperava, os súditos de Satanás estavam deixando o seu serviço e alistando-se sob a bandeira de Cristo.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Predito o Destino do Mundo - Parte IV

As forças judaicas, perseguindo a Céstio e seu exército, caíram sobre sua retaguarda com tal ferocidade que o ameaçaram de destruição total. Foi com grande dificuldade que os romanos conseguiram efetuar a retirada. Os judeus escaparam quase sem perdas, e com seus despojos voltaram em triunfo para Jerusalém. No entanto este êxito aparente apenas lhes acarretou males. Inspirou-lhes aquele espírito de pertinaz resistência aos romanos, que celeremente trouxe indescritível desgraça sobre a cidade sentenciada.

Terríveis foram as calamidades que caíram sobre Jerusalém quando o cerco foi reassumido por Tito. A cidade foi assaltada na ocasião da Páscoa, quando milhões de judeus estavam reunidos dentro de seus muros. Suas provisões de víveres, que a serem cuidadosamente preservadas teriam suprido os habitantes durante anos, tinham sido previamente destruídas pela rivalidade e vingança das facções contendoras, e agora experimentaram todos os horrores da morte à fome. Uma medida de trigo era vendida por um talento. Tão atrozes eram os transes da fome que homens roíam o couro de seus cinturões e sandálias, e a cobertura de seus escudos. Numerosas pessoas saíam da cidade à noite, furtivamente para apanhar plantas silvestres que cresciam fora dos muros da cidade, se bem muitos fossem agarrados e mortos com severas torturas; e muitas vezes os que voltavam em segurança eram roubados naquilo que haviam rebuscado com tão grande perigo. As mais desumanas torturas eram infligidas pelos que se achavam no poder, a fim de extorquir do povo atingido pela necessidade os últimos e escassos suprimentos que poderiam ter escondido. E tais crueldades eram freqüentemente praticadas por homens que se achavam, aliás bem alimentados, e que simplesmente estavam desejosos de acumular um depósito de provisões para o futuro.

Milhares pereceram pela fome e pela peste. A afeição natural parecia ter-se destruído. Maridos roubavam de suas esposas e esposas de seus maridos. Viam-se filhos arrebatar alimentos de seus pais idosos. A pergunta do profeta: “Pode esquecer-se tanto de seu filho que cria?” (Isaías 49:15) recebeu dentro dos muros da cidade condenada a resposta: “As mãos das mulheres piedosas coseram os próprios filhos; serviram de alimento na destruição da filha de meu povo.” Lamentações 4:10. Novamente se cumpriu a profecia de aviso, dada catorze séculos antes: “E quanto a mulher mais mimosa e dedicada entre ti, que mimo e delicadeza nunca tentou pôr a planta de seu pé sobre a terra, será maligno o seu olho contra o homem de seu regaço, e contra seu filho e sua filha;...e por causa dos seus filhos que tiver; porque os comerá às escondidas pela falta de tudo, no cerco e no aperto com o que o teu inimigo te apertará nas tuas portas.” Deuteronômio 28:56 e 57.

Os chefes romanos esforçaram-se por infundir terror aos judeus, e assim fazê-los render-se. Os prisioneiros que resistiam ao cair presos, eram açoitados, torturados e crucificados diante do muro da cidade. Centenas eram diariamente mortos desta maneira, e essa horrível obra prolongou-se até que ao longo do vale de Josafá e Calvário se erigiram cruzes em tão grande número que mal havia espaço para mover-se entre elas. De tão terrível maneira foi castigada aquela espantosa imprecação perante o tribunal de Pilatos: “O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos.” Mateus 27:25.

Tito, de boa vontade, teria posto termo a terrível cena, poupando assim a Jerusalém da medida completa de sua condenação. Ele enchia de terror ao ver seus corpos jazendo aos montes nos vales. Como alguém que estivesse em êxtase, olhava ele do cimo do Monte das Oliveiras ao templo magnificente, e deu ordem para que nenhuma de suas pedras fosse tocada. Antes de tentar posse desta fortaleza, fez ardente apelo aos chefes judeus para não o forçarem a profanar com sangue o lugar sagrado. Se saíssem e combatessem em outro local, nenhum romano violaria a santidade do templo. O próprio Josefo com apelo eloqüentíssimo suplicou que se rendessem para se salvarem a si, a sua cidade e o seu lugar de culto. Suas palavras, porém, foram respondidas com pragas amargas. Lançaram-se dardos contra ele, que era seu último mediador humano, enquanto persistia em instar com eles. Os judeus haviam rejeitado os rogos do Filho de Deus e agora as advertência e rogos apenas os tornavam mais decididos a resistir até o último ponto. Baldados foram os esforços de Tito para salvar o templo. Alguém, maior do que ele, declarara que não ficaria pedra sobre pedra.

A cega obstinação dos chefes dos judeus e os abomináveis crimes perpetrados dentro da cidade sitiada, excitaram o horror e a indignação dos romanos, e Tito finalmente se decidiu a tomar o templo de assalto. Resolveu, contudo, que, sendo possível deveria o mesmo ser salvo da destruição. Mas suas ordens foram desatendidas. Depois que ele se retirara para a sua tenda à noite, os judeus, dando uma surtida do templo, atacaram fora os soldados. Na luta, um soldado arremessou um facho através de uma abertura no pórtico, e imediatamente as salas revestidas de cedro, em redor da casa sagrada, se acharam em chamas.

Tito precipitou-se para o local, seguido de seus generais e legionários, e ordenou aos soldados que apagassem as labaredas. Suas palavras não foram atendidas. Em sua fúria, os soldados lançaram tochas ardentes nas salas contínguas ao templo, e com a espada assassinavam em grande número os que ali tinham procurado refúgio. O sangue corria como água pelas escadas do templo abaixo. Milhares e milhares de Judeus pereceram. Acima do ruído da batalha, ouviam-se vozes bradando: “Icabode!” – foi-se a glória.

“Tito achou impossível sustar a fúria da soldadesca; entrou com os seus soldados e examinou o interior do edifício sagrado. O esplendor enche-os de admiração; e como as chamas ainda não houvesse ainda no lugar santo, fez um último esforço para salvá-lo; e, apresentando-se-lhes repentinamente, de novo exortou os soldados a deterem a marcha da conflagração. O centurião Liberalis esforçou-se por impor obediência ao seu estado maior; mas o próprio respeito para com o imperador cedeu lugar à furiosa animosidade contra os judeus, ao excitamento feroz da batalha, e à esperança insaciável do saque.os soldado viam tudo em redor deles resplandecendo de ouro, que fulgurava deslumbrantemente à luz sinistra da chamas; supunham que inalcançáveis tesouros estivessem acumulados no santuário. Um soldado, sem ser percebido, arrojou uma tocha acesa por entre os gonzos da porta: o edifício todo em momento ficou em chamas. O denso fumo e o fogo obrigaram os oficiais a retirarem-se, e o nobre edifício foi abandonado à sua sorte.”

“Era um espetáculo pavoroso aos romanos; e que seria ele para os judeus? Todo o cimo da colina que dominava a cidade, chamejava como um vulcão. Um após outro caíram os edifícios, com tremendo fragor, e foram absorvidos pelo ígneo abismo. Os tetos de cedro assemelhavam-se a lençóis de fogo; os pináculos dourados resplandeciam como pontas de luz vermelha; as torres dos portais enviavam para cima altas colunas de chama e fumo. As colinas vizinhas se iluminavam; e grupos obscuros de pessoas foram vistas a observar com horrível ansiedade a marcha da destruição; os muros e pontos elevados da cidade alta ficaram repletos de rostos, alguns pálidos, com a agonia do desespero, outros com expressão irada, a ameaçar uma vingança inútil. As aclamações da soldadesca romana, enquanto corriam de uma para outra parte, e o gemido dos insurgentes que estavam perecendo nas chamas, misturavam-se com o rugido da conflagração e o rumor trovejante do madeiramento que caía. Os ecos das montanhas respondiam ou traziam de volta o grito do povo nos pontos elevados; ao longo de todo o muro ressoavam alaridos e prantos; homens que estavam a expirar pela fome reuniam sua força restante para proferir um grito de angústia e desolação.”

“O morticínio do lado de dentro, era até mais terrível do que o espetáculo visto fora. Homens e mulheres, velhos e moços, insurgentes e sacerdotes, os que combatiam e os que imploravam misericórdia, eram retalhados em indiscriminada carnificina. O número de mortos excedeu ao de matadores. Os legionários tiveram de trepar sobre os montes de cadáveres para prosseguir na obra de extermínio.” – HISTÓRIA DOS JUDEUS, de Milman, livro 16.

Depois da destruição do templo, a cidade inteira logo caiu nas mãos dos romanos. Os chefes dos judeus abandonaram as torres inexpugnáveis, e Tito as achou desertas. Contemplou-as com espanto e declarou que Deus lhas havia entregue em suas mãos; pois engenho algum, ainda que poderoso, poderia ter prevalecido contra aquelas estupendas ameias. Tanto a cidade como o templo foram arrasados até aos fundamentos, e o terreno em que se erguia a casa sagrada foi lavrado como um campo. (Jeremias 26:18). No cerco e morticínio que se seguiram, pereceram mais de um milhão de pessoas; os sobreviventes foram levados como escravos, como tais vendidos, arrastados a Roma para abrilhantar a vitória do vencedor, lançados às feras nos anfiteatros, ou dispersos por toda a Terra como vagabundos sem lar.

Os judeus haviam forjados seus próprios grilhões; eles mesmos encheram a taça da vingança. Na destruição completa que lhes sobreveio como nação, e em todas as desgraças que os acompanharam depois de dispersos, não estavam senão recolhendo a messe que suas próprias mãos semearam. Diz o profeta: “Para tua perda, ó Israel, te rebelaste contra Mim,” “pelos teus pecados tens caído” (Oséias 13:9;14:1). Seus sofrimentos são muitas vezes representados como sendo castigo a eles infligindo por decreto direto da parte de Deus. É assim que o grande enganador procura esconder sua própria obra. Pela obstinada rejeição do amor e misericórdia divina, os judeus fizeram com que a proteção de Deus fosse deles retirada e permitiu-se a Satanás dirigi-los segundo a sua vontade. As horríveis crueldades executadas na destruição de Jerusalém são uma demonstração do poder vingador de Satanás sobre os que se rendem ao seu controle.

Não podemos saber quanto devemos a Cristo pela paz e proteção de que gozamos. É o poder de Deus que impede que a humanidade passe completamente para o domínio de Satanás. Os desobedientes e ingratos tem grande motivo de gratidão pela misericórdia longanimidade de Deus, que contém o cruel e pernicioso poder do maligno. Quando, porém, os homens passam os limites da clemência divina, a restrição é removida. Deus não fica em relação ao pecador como executor da sentença contra a transgressão; mas deixa entregues a si mesmo os que rejeitam Sua misericórdia, para colherem aquilo que semearam. Cada raio de luz rejeitado, cada advertência desprezada ou desatendida, cada paixão contemporizada, cada transgressão da lei de Deus é uma semente lançada, a qual produz infalível messe. O Espírito de Deus, persistentemente resistido, é afinal retirado do pecador, e então poder algum permanece para dominar as más paixões da alma, e nenhuma proteção contra a maldade e inimizade de Satanás. A destruição de Jerusalém constitui tremenda e solene advertência a todos os que estão tratando levianamente com os oferecimentos da graça divina e. Resistindo aos rogos da misericórdia de Deus. Jamais foi dado um testemunho mais decisivo do ódio ao pecador por de Deus, e do castigo certo que recairá sobre o culpado.

A profecia do Salvador relativa aos juízos que deveriam cair sobre Jerusalém há de ter outro cumprimento do qual aquela terrível desolação não foi senão tênue sombra. Na sorte da cidade escolhida podemos contemplar a condenação de um mundo que rejeitou a misericórdia de Deus e calcou a pés a Sua lei. Tenebrosos são registros da miséria humana que a Terra tem testemunhado durante seus longos séculos de crime. Ao contemplá-los com confrange-se o coração e o espírito desfalece. Terríveis têm sido os resultados da rejeição da autoridade do Céu. Entretanto cena ainda mais tenebrosa se apresenta nas revelações do futuro. Os registros do passado – o longo cortejo de tumultos e revoluções, a “armadura daqueles que pelejavam com o ruído, e os vestidos que rolavam no sangue” (Isaías 9:5) – que são, em contraste com os terrores daquele dia em que o Espírito de Deus será retirado totalmente dos ímpios, que não mais contendo a explosão das paixões humanas e ira satânica! O mundo contemplará então como nunca dantes, os resultados do governo de Satanás.

Mas naquele dia, bem como na ocasião da destruição de Jerusalém, livrar-se-á o povo de Deus, “todo aquele que estiver inscrito entre os vivos.” Isaías 4:3. Cristo declarou que virá segunda vez para reunir a Si os Seus fiéis: “E todas as tribos da Terra se lamentarão, verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória. E Ele enviará os Seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os Seus escolhidos desde os quatro ventos de uma a outra extremidade dos céus.” Mateus 24:30 e 31. Então os que não obedecem ao Evangelho serão consumidos pelo espírito de Sua boca, e serão destruídos com o resplendor de Sua vinda. (II Tessalonicenses 2:8). Como o antigo Israel, os ímpios destroem-se a si mesmos; caem pela sua iniqüidade. Em conseqüência de uma vida de pecados, colocaram-se tão fora de harmonia com Deus, sua natureza se tornou tão aviltada com o mal que a manifestação da glória divina é para eles um fogo consumidor.

Acautelem-se os homens para que não aconteça negligenciarem a lição que lhes é comunicada pelas palavras de Cristo. Assim como ele preveniu Seus discípulos quanto à destruição de Jerusalém, dando-lhes um sinal da ruína que se aproximava para que pudessem escapar, também advertiu o mundo quanto ao dia da destruição final, e lhes deu sinal de sua aproximação para que todos os que queiram possam fugir da ira vindoura. Declara Jesus: “E haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas; e na Terra angústia das nações.” Lucas 21:25. Mateus 24:29. Marcos 13-24-26. Apocalipse 6:12-17. Os que contemplam estes prenúncios de Sua vinda, devem saber que “está próximo, às portas.” Mateus 24:36. “Vigiai, pois” (Marcos13:35), são Suas palavras de advertência. Os que atendem ao aviso não serão deixados em trevas, para aquele dia os apanhe desprevenidos. Mas aos que não vigiarem, “o dia do Senhor virá como ladrão de noite.” I Tessalonicenses 5:2

O mundo não está mais preparado para dar crédito à mensagem para este tempo do que estiveram os judeus para receberem o aviso do Salvador, relativo a Jerusalém. Venha quando vier, o dia do Senhor virá de improviso aos ímpios. Correndo a vida sua rotina invariável; encontrando-se os homens absortos nos prazeres, negócios, comércio e ambição de ganho; estando os dirigentes do mundo religioso a engrandecer o progresso e ilustração do mundo, e achando-se o povo embalado em uma falsa segurança, então, como o ladrão à meia-noite rouba na casa que não é guardada, sobrevirá repentina destruição aos descuidados e ímpios, e “de nenhum modo escaparão.” I Tessalonicenses 5:3-5.

domingo, 23 de dezembro de 2007

Predito o Destino do Mundo - Parte III

Com subversão de Jerusalém os discípulos associaram os fatos da vinda pessoal de Cristo em glória temporal a fim de assumir o trono império do Universo, castigar os judeus impenitentes e libertar a nação do jugo romano. O Senhor lhes dissera que viria segunda vez. Daí, com a menção dos judeus sobre Jerusalém, volveram o pensamento para aquela vinda; e, como estivessem reunidos em torno do Salvador sobre o monte das Oliveiras, perguntaram: “Quando serão estas coisas, e que sinal haverá da Tua vinda e do fim do mundo?” Mateus 24:03.

O futuro estava misericordiosamente velado aos discípulos. Houvesse eles naquela ocasião compreendido os dois terríveis fatos – os sofrimentos e morte do Redentor, e a destruição da sua cidade e templo – teriam sido dominados pelo terror. Cristo apresentou diante deles um esboço dos acontecimentos preeminentes a ocorrerem antes do final do tempo. Suas palavras não foram completamente entendidas; mas a significação ser-lhes-ia revelada quando Seu povo necessitasse da instrução nelas dada. A profecia que Ele proferiu era dupla em seu sentido: ao mesmo tempo em que prefigurava a destruição de Jerusalém, representava igualmente os terrores do último grande dia.

Jesus declarou aos discípulos que O escutavam, os juízos que deveriam cair sobre o apóstata Israel, e especialmente o castigo retribuidor que lhe sobreviria por sua rejeição e crucifixão do Messias. Sinais inequívocos precederiam a terrível culminação. A hora temida viria súbita e celeremente. E o Salvador advertiu a Seus seguidores: “Quando pois virdes que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo (que lê, entenda), então os que estiverem na Judéia fujam para os montes.” Mateus 24:15 e 16; Lucas 21:20. Quando estandartes idolátricos dos romanos fossem arvorados em terra santa, a qual se estendia por alguns estádios fora dos muros da cidade, então os seguidores de Cristo deveriam achar segurança na fuga. Quando fosse visto o sinal de aviso, os que desejavam escapar não deveriam demorar-se. Por toda a terra da Judéia, bem como em Jerusalém mesmo, o sinal para a fuga deveria ser imediatamente obedecido. Aquele que por acaso estivesse no telhado, não deveria descer à casa, mesmo para salvar os tesouros mais valiosos. Os que estivessem trabalhando nos campos ou nos vinhedos, não deveriam tomar tempo para voltar a fim de apanhar a roupa exterior, posta de lado enquanto estavam a labutar no calor do dia. Não deveriam hesitar um instante para que não fossem apanhados pela destruição geral.

No reinado de Herodes, Jerusalém não só havia sido grandemente embelezada, mas, pela ereção de torres, muralhas e fortalezas, em acréscimo à força natural de sua posição, tornara-se aparentemente inexpugnável. Aquele que nesse tempo houvesse publicamente predito sua destruição, teria sido chamado, como Noé em sua época, doido alarmista. Mas Cristo dissera: “O céu e a Terra passarão, mas Minhas palavras não hão de passar.” Mateus 24:35. Por causa de seus pecados, foi anunciada a ira contra Jerusalém e sua pertinaz incredulidade selou-lhe a sorte.

O Senhor tinha declarado pelo profeta Miquéias: “Ouvi agora isto, vós, chefes de casa de Jacó, e vós, maiorais da casa de Israel, que abominais o juízo e perverteis tudo o que direito, edificando a Sião com sangue, e a Jerusalém com injustiça. Os seus chefes dão as sentenças por presentes, e os seus sacerdotes ensinam por interesse, e os seus profetas advinham por dinheiro; e ainda se encostam ao Senhor,dizendo: não está o Senhor no meio de nós? Nenhum mal nos sobrevirá.” Miquéias 3:9-11.

Estas palavras descreviam fielmente os habitantes de Jerusalém, corruptos e possuídos de justiça própria. Pretendendo embora observar rigidamente os preceitos da lei de Deus, estavam transgredindo todos os seus princípios. Odiavam a Cristo porque Sua natureza e santidade lhes revelavam a iniqüidade própria; e acusavam-No de ser a causa de todas as angústias que lhes tinham sobrevindo em conseqüência de seus pecados. Posto que soubessem não ter Ele pecado, declararam que Sua morte era necessária para segurança deles como nação. “Se o deixarmos assim,” disseram os chefes dos judeus, “todos crerão Nele, e virão os romanos, e tirar-nos-ão o nosso lugar e a nação.” João 11:48. Se Cristo fosse sacrificado, eles poderiam uma vez mais se tornar um povo forte, unido. Assim raciocinavam, e concordavam com a decisão de um sumo sacerdote de que seria melhor morrer um homem do que perecer toda a nação.

Assim os dirigentes judeus edificavam a “Sião com sangue, e a Jerusalém com injustiça.” E além disso ao mesmo tempo em que mataram o Salvador porque lhes reprovava os pecados, tal era a sua justiça própria que se consideravam como o povo favorecido de Deus, esperavam que o Senhor os livrasse de seus inimigos. “Portanto,” continuou o profeta, “por causa de vós, Sião será lavrada como um campo, e Jerusalém se tornará em montões de pedras e o monte desta casa em lugares altos dum bosque.” Miquéias 3:12.

Durante quase quarenta anos depois que a condenação de Jerusalém fora pronunciada por Cristo mesmo, retardou o Senhor os juízos sobre a cidade e nação. Maravilhosa foi a longanimidade de Deus para com os que Lhe rejeitaram o evangelho e assassinaram o Filho. A parábola da árvore infrutífera representava o trato de Deus para com a nação judaica. Fora dada a ordem: “Corta-a; por que ainda ocupa a terra inutilmente?” Lucas 13:7. Mas a misericórdia divina poupara-a ainda um pouco de tempo. Muitos havia entre os judeus que eram ignorantes quanto ao caráter e obra de Cristo. E os filhos não haviam gozado das oportunidades nem recebido a luz que seus pais tinham desprezado. Mediante a pregação dos apóstolos e de seus cooperadores, Deus faria com que a luz resplandecesse sobre eles; ser-lhes-ia permitido ver como a profecia se cumprira, não somente no nascimento e vida de Cristo, mas também em Sua morte e ressurreição. Os filhos não foram condenados pelos pecados dos pais; quando, porém, conhecedores de toda a luz dada a seus pais, os filhos rejeitaram mesmo a que fora concedida a mais, tornaram-se participantes dos pecados daqueles e encheram a medida da iniqüidade.

A longanimidade de Deus para com Jerusalém apenas confirmou os judeus em sua obstinada impenitência. Em seu ódio e crueldade para com os discípulos de Jesus, rejeitaram o último oferecimento de misericórdia. Afastou então Deus deles a proteção, retirando o poder que restringia a Satanás e seus anjos, de maneira que a nação ficou sob o controle do chefe que haviam escolhido. Seus filhos tinham desdenhado a graça de Cristo, que os teria habilitado a subjugar seus maus impulsos, e agora estes se tornaram os vencedores. Satanás suscitou as mais violentas e vis paixões da alma. Os homens não raciocinavam; achavam-se fora da razão,dirigidos pelo impulso e cega raiva. Tornaram-se satânicos em sua crueldade. Na família e na sociedade, entre as mais altas como entre as mais baixas classes, havia suspeita, ódio, inveja, contenda rebelião, assassínio. Não havia segurança em parte alguma. Amigos e parentes traíam-se mutuamente. Pais matavam aos filhos e os filhos aos pais. Os príncipes do povo não tinham poder para governar-se. Desenfreadas paixões faziam-nos tiranos. Os judeus haviam aceitado falso testemunho para condenar o inocente Filho de Deus. Agora as falsas acusações tornavam insegura a sua própria vida. Pelas suas ações durante muito tempo tinham estado a dizer: “Fazei que deixe de estar o Santo de Israel perante nós.” Isaías 30:11. Agora seu desejo foi satisfeito. O temor de Deus não mais o perturbaria. Satanás estava à frente da nação e as mais altas autoridades civis e religiosas estavam sob seu domínio.

Os chefes das facções oponentes por vezes se uniam para saquear suas desgraçadas vítimas, e novamente caíam sobre as forças uns dos outros, fazendo impiedosa matança. Mesmo a santidade do templo não refreava a horrível ferocidade. Os adoradores eram assassinados diante do altar, e o santuário contaminava-se com corpos de mortos. No entanto em sua cega e blasfema presunção, os instigadores desta obra infernal publicamente declaravam que não tinham receio de que Jerusalém fosse destruída, pois era a própria cidade de Deus. A fim de estabelecer seu poder, subornaram profetas falsos para proclamar, mesmo enquanto as legiões romanas estavam sitiando o templo, que o povo devia aguardar o livramento de Deus. Afinal, as multidões se apegaram firmemente à crença de que o Altíssimo interviria para derrota de seus adversários. Israel, porém havia desdenhado da proteção divina, e agora não tinha defesa. Infeliz Jerusalém! Despedaçada por dissensões intestinas, com o sangue de seus filhos mortos pelas mãos uns dos outros, a atingir de carmesim suas ruas, enquanto hostis exércitos estrangeiros derribavam suas fortificações e lhes matavam os homens de guerra!

Todas as predições feitas por Cristo relativas à destruição de Jerusalém cumpriram-se à letra. Os judeus experimentaram a verdade de suas palavras de advertência: “Com a medida com que tiverdes medido, vos hão de medir a vós.” Mateus 7:02.

Apareceram sinais e prodígios, prenunciando desastre e condenação. Ao meio da noite uma luz sobrenatural sobre o templo e o altar. Sobre as nuvens ao pôr do sol, desenhavam-se carros e homens de guerra reunidos para a batalha os sacerdotes que ministravam à noite no santuário aterrorizavam-se com sons misteriosos; a terra tremia e ouvia-se multidão de vozes a clamar: “Partamos daqui!” A grande porta oriental, tão pesada que dificilmente podia ser fechada por uns vinte homens, e que se achava segura por imensas barras de ferro fixas profundamente no pavimento de pedra sólida, abriu-se à meia noite, independente de qualquer agente visível.( – História dos Judeus, de Milman, livro 13).

Durante sete anos um homem esteve a subir e a descer as ruas de Jerusalém e declarando as desgraças que deveriam sobrevir à cidade. De dia e de noite cantava ele funebremente: “Uma voz do oriente, uma voz do ocidente, uma voz dos quatros ventos! Uma voz contra Jerusalém e contra o templo! Uma voz contra os noivos e as noivas! Uma voz contra o povo!” – Ibidem. Este ser estranho foi preso e açoitado, mas nenhuma queixa lhe escapou dos lábios. Aos insultos e maus tratos respondia somente: “Ai! Ai de Jerusalém!” “Ai! Ai dos habitantes dela!” Seu clamor de aviso não cessou senão quando foi morto no cerco que havia predito.

Nenhum cristão pereceu na destruição de Jerusalém. Cristo fizera a seus discípulos o aviso, e todos os que creram em Suas palavras aguardaram o sinal prometido. “Quando virdes Jerusalém cercada de exércitos,” disse Jesus, sabei que é chegada a sua desolação. Então os que estiveram na Judéia, fujam para os montes os que estiverem no meio da cidade, saiam.” Lucas 21:20 e 21. Depois que os romanos, sob Céstio, cercaram a cidade, inesperadamente abandonaram o cerco quando tudo parecia favorável a um ataque imediato. Os sitiados perdendo a esperança de poder resistir, estavam a ponto de se entregar, quando o general romano retirou suas forças sem a mínima razão aparente. Entretanto a misericordiosa providência de Deus estava dirigindo os acontecimentos para o bem do seu próprio povo. O sinal prometido fora dado aos cristãos expectantes, e agora se proporcionou a todos oportunidade para obedecer ao aviso do Salvador. Os acontecimentos foram encaminhados de tal maneira que judeus nem romanos impediriam a fuga dos cristãos. Com a retirada de Céstio, os judeus, fazendo uma surtida em Jerusalém, foram ao encalço de seu exército que se afastava; e, enquanto ambas as forças estavam assim completamente empenhadas em luta, os cristãos tiveram ensejo de deixar a cidade. Nesta ocasião o território havia se desembaraçado de inimigos que poderiam ter-se esforçado para lhes interceptar a passagem. Na ocasião do cerco os judeus estavam reunidos em Jerusalém para celebrar a festa dos Tabernáculos, e assim os cristão de todo o país puderam escapar sem ser molestados. Imediatamente fugiram para um lugar de segurança – cidade de Pela, na terra Peréia, além do Jordão.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Predito o Destino do Mundo - Parte II

Profetas haviam chorado a apostasia de Israel, e as terríveis desolações que seus pecados atraíram. Jeremias desejava que seus olhos fossem uma fonte de lágrimas, para que pudesse chorar dia e noite pelos mortos da filha de seu povo, pelo rebanho do Senhor que fora levado em cativeiro (Jeremias 9:01; 13:17). Qual não a dor Daquele cujo olhar profético abrangia não os anos, mas os séculos! Contemplava Ele o anjo destruidor com a espada levantada contra a cidade que durante tanto tempo fora a morada de Jeová. Do cume do monte da Oliveiras, no mesmo ponto mais tarde ocupado por Tito e seu exército, olhava Ele através do vale para os pátios e pórticos sagrados, e, com a vista obscurecida pelas lágrimas, via em terrível perspectiva, os muros rodeados de hostes estrangeiras. Ouvia o tropel de exércitos dispondo-se para a guerra. Distinguia as vozes de mães e crianças que, na cidade sitiada, bradavam pedindo pão. Via entregue às chamas o santo e belo templo, os palácios e torres, e no lugar em que eles se erigiam, apenas um monte de ruínas fumegantes.

Olhando através dos séculos futuros, via o povo do concerto espalhado em todos os países, semelhante aos destroços de um naufrágio em praia deserta. Nos castigos prestes a cair sobre seus filhos, não via Ele senão o primeiro sorvo daquela taça de ira que no juízo final deveria esgotar até às fezes. A piedade divina, o terno amor encontraram expressão nestas melancólicas palavras: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis Eu ajuntar os teus filhos, como uma galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!” Mateus 23:37. Oh! Se houveras conhecido, como nação favorecida acima de todas as outras, o tempo de tua visitação e as coisas que pertencem à tua paz! Tenho contido o anjo da justiça, tenho-te convidado ao arrependimento, mas em vão. Não meramente a servos, enviados e profetas que tens repelido e rejeitado, mas ao Santo de Israel, teu Redentor. Se és destruída, tu unicamente és a responsável. “E não quereis vir a Mim para terdes vida”. João 5:40.

Cristo viu em Jerusalém símbolo do mundo endurecido na incredulidade e rebelião, e apressando-se ao encontro dos juízos retribuidores de Deus. As desgraças de uma raça decaída, oprimindo-lhe a alma, arrancavam de Seus lábios aquele clamor extremamente amargurado. Viu a história do pecado traçada pelas misérias, lágrimas e sangue humanos; o coração moveu-se-Lhe de infinita compaixão pelos aflitos e sofredores da Terra; angustiava-se por aliviar a todos. Contudo mesmo Sua mão não poderia demover a onda das desgraças humanas; poucos procurariam a única fonte de auxílio. Ele estava disposto a derramar a alma na morte, a fim colocar a salvação ao seu alcance; poucos, porém, viriam a Ele para que pudessem ter vida.

A Majestade dos Céus em pranto! O Filho do infinito Deus perturbado em espírito, curvado em angústia! Esta cena encheu de espanto e Céu inteiro. Revela-nos a imensa malignidade do pecado; mostra quão árdua tarefa é, mesmo para o poder infinito, salvar o culpado das conseqüências da transgressão da lei de Deus. Jesus, olhando para a última geração,viu o mundo envolto em engano semelhante ao que causou a destruição de Jerusalém. O grande pecado dos judeus foi rejeitarem a Cristo; o grande pecado do mundo cristão seria rejeitarem a lei de Deus, fundamento de Seu governo no Céu e na Terra. Os preceitos de Jeová seriam desprezados e anulados. Milhões na servidão do pecado, escravos de Satanás, condenados a sofrer a segunda morte, recusar-se-iam a escutar as palavras de verdade no dia sua visitação. Terrível cegueira, estranha presunção.

Dois dias antes da Páscoa, quando Cristo pela última vez que se havia afastado do templo, depois de denunciar a hipocrisia dos príncipes judeus, novamente sai com os discípulos para o monte das Oliveiras, e assentar-Se com eles no declive relvoso, sobranceiro à cidade. Mais uma vez contempla seus muros, torres e palácios. Mais uma vez se Lhe depara o templo em seu deslumbrante esplendor, qual diadema de beleza a coroar o monte sagrado.

Mil anos antes, o salmista engrandecera o favor de Deus para com Israel fazendo da casa sagrada deste a Sua morada: “Em Salém está o Seu tabernáculo, e a Sua morada em Sião.” Salmo 76:02. Ele “elegeu a tribo de Judá; o monte de Sião, que ele amava. E edificou o Seu santuário como aos lugares elevados.” Salmo 78:68 e 69. O primeiro templo fora erigido durante o período mais próspero de Israel. Grandes armazenamentos de tesouros para esse fim haviam sido acumulados pelo rei Davi e a plante para a sua construção fora feita por inspiração divina. (I Crônicas 28:12 19). Salomão, mais sábio dos monarcas de Israel, completa a obra. Este templo foi o edifício mais magnificente que o mundo já viu. Contudo o Senhor declarou pelo profeta Ageu, relativamente ao segundo do templo: “A glória desta última casa será maior do que a da primeira.” “Farei tremer todas as nações, e encherei esta casa de glória diz o Senhor dos exércitos.” Ageu 2:9 e 7.

Depois da destruição do templo por Nabucodonosor, foi reconstruído aproximadamente quinhentos anos antes do nascimento de Cristo, por um povo que, de um longo cativeiro, voltara de um país devastado e quase deserto. Haviam, então, entre eles homens idosos que tinham visto a glória do templo de Salomão e que choraram junto aos alicerces do novo edifício porque devesse ser tão inferior ao antecedente. O sentimento que prevalecia é vividamente descrito pelo profeta: “Quem há entre vós que, tendo ficado, viu esta casa na sua primeira glória? E como a vedes agora? Não é esta agora? Não é esta como nada em vossos olhos comparada com aquela?” Ageu 2:3; Esdras 3:12. Então foi feita a promessa de que a glória desta última casa seria maior do que a da anterior.

Mas o segundo templo não igualou o primeiro em magnificência; tampouco foi consagração pelos visíveis sinais da presença divina que o primeiro tivera. Não houve manifestação de poder sobrenatural para assinalar sua dedicação. Nenhuma nuvem de glória foi vista a encher o santuário recém-erigido. Nenhum fogo do Céu desceu para consumir o sacrifício sobre o altar. O “shekinah” não mais habitava entre os querubins no lugar santíssimo; a arca, o propiciatório, as tábuas do testemunho não mais deveriam encontrar-se ali. Nenhuma voz ecoava do Céu para tornar conhecida ao sacerdote inquiridor à vontade de Jeová.

Durante séculos os judeus debalde se haviam esforçado por mostrar que a promessa de Deus feita por Ageu se cumprira; entretanto, o orgulho e a incredulidade lhes cegava a mente ao verdadeiro sentido das palavras do profeta. O segundo templo não foi honrado com a nuvem de glória de Jeová, mas com a presença viva Daquele em quem habita corporalmente a plenitude da divindade – que foi Deus manifesto em carne. O “Desejado de todas as nações” havia em verdade chegado a Seu templo quando o Homem de Nazaré ensinava e curava nos pátios sagrados. Com a presença de Cristo, e com ela somente, o segundo templo excedeu o primeiro em glória. Mas Israel afastara de si o Dom do Céu, que lhe era oferecido. Com o humilde Mestre que naquele dia saíra de seu portal de ouro, a glória para sempre se retirara do templo. Já eram cumpridas as palavras do Salvador: “Eis que a vossa casa vai ficar-vos deserta.” Mateus 23:38.

Os discípulos ficaram cheios de espanto e admiração ante a profecia de Cristo acerca da subversão do templo, e desejavam compreender melhor o significado de suas palavras. Riquezas, trabalhos e perícia arquitetônica haviam mais de quarenta anos sido liberalmente expedidos para salientar os seus esplendores. Herodes, o Grande, nele empregara prodigamente tanto riquezas romanas como tesouros judeus, e mesmo o imperador do mundo o tinha enriquecido com seus dons. Blocos maciços de mármore branco, de tamanho quase fabuloso, provenientes de Roma para este fim, formavam parte de sua estrutura; e para eles chamaram os discípulos a atenção do Mestre, dizendo: “Olha que pedras, e que edifícios!” Marcos 13:01.

A estas palavras deu Jesus a solene e surpreendente resposta: “Em verdade vos digo que não ficará pedra sobre pedra que não seja derribada.” Mateus 24:02.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Predito o Destino do Mundo - Parte I

“Ah! Se conhecesses também, ao menos neste dia, o que à tua paz pertence! Mas agora isto está encoberto aos teus olhos. Porque dias virão sobre ti, em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, e te sitiarão, e te estreitarão de todas as bandas; e te derribarão a ti e aos teus filhos que dentro de ti estiverem; e não deixarão sobre ti pedra sobre pedra, pois que não conheceste o tempo da tua visitação.” Lucas 19:42-44.

Do cimo do monte das Oliveiras. Jesus olhava sobre Jerusalém. Lindo e calmo era o cenário que diante dEle se desdobrava. Era o tempo da Páscoa, e de todas as terras os filhos de Jacó se haviam ali reunido para celebrar a grande festa nacional. Em meio de hortos e vinhedos, declives verdejantes juncados das tendas dos peregrinos, erguiam-se as colinas terraplenadas, os majestosos palácios e os maciços baluartes da capital de Israel. A filha de Sião parecia dizer em seu orgulho: “Estou assentada como rainha, e não... verei o pranto,” sendo ela tão formosa então e julgando-se tão segura do favor do Céu como quando, séculos antes, o trovador real cantara: “Formoso de sítio e alegria de toda a Terra é o monte de Sião... a cidade do grande Rei.” Salmo 48:02. Bem à vista estavam os magnificentes edifícios do templo. Os raios do sol poente iluminavam a brancura de neve de suas paredes de mármore e punham reflexos no portal de ouro, na torre do pináculo. Qual “perfeição de formosura,” levanta-se ele como o orgulho da nação judaica. Que filho de Israel poderia contemplar aquele cenário sem um estremecimento de alegria e admiração?! Entretanto pensamentos muito diversos ocupavam a mente de Jesus. “Quando ia chegando, vendo a cidade, chorou sobre ela.” Lucas 19:41. Por entre o regozijo de Sua entrada triunfal, enquanto se agitavam ramos de Palmeiras, enquanto alegres hosanas despertavam ecos nas colinas, e milhares de vozes O aclamavam Rei, o Redentor do mundo achava-se oprimido por súbita e misteriosa tristeza. Ele, o filho de Deus, o Prometido de Israel, cujo poder vencera a morte e do túmulo chamara a seus cativos, estava em pranto, não em conseqüência de uma mágoa comum, senão de agonia intensa, irreprimível.

Suas lágrimas não eram por Si mesmo, posto que bem soubesse para onde Seus passos O levariam. Diante dEle jazia o Getsêmani, cenário de Sua próxima agonia. Estava também à vista a porta das ovelhas, através da qual durante séculos tinham sido conduzidos as vítimas para o sacrifício, e que Lhe deveria abrir quando fosse “como um cordeiro” “levado ao matadouro.” Isaías 53:07. Não muito distante estava o Calvário, o local da crucifixão. Sobre o caminho que Cristo logo deveria trilhar, cairia o terror de grandes trevas ao fazer Ele de Sua alma uma oferta pelo pecado. Todavia, não era a contemplação destas cenas que lançava sobre Ele aquela sombra, em tal hora de alegria. Nenhum presságio de Sua própria angústia sobre-humana nublava aquele espírito abnegado. Chorava pela sorte dos milhares de Jerusalém – por causa da cegueira e impenitência daqueles que Ele viera abençoar e salvar.

A história de mais de mil anos do favor especial de Deus e de Seu cuidado protetor manifestos ao povo escolhido, estava patente aos olhos de Jesus. Ali estava o monte Moriá, onde o filho da promessa, como vítima submissa, havia sido ligado ao altar – emblema da oferenda do Filho de Deus. (Gênesis 22:09). Ali, o concerto de bênçãos e a gloriosa promessa messiânica tinham sido confirmados ao pai dos crentes (Gênesis 22:16-18). Ali as chamas do sacrifício, ascendendo da eira de Ornã para o céu, haviam desviado a espada do anjo destruidor (I Crônicas 21) – símbolo apropriado do sacrifício e mediação do Salvador em prol do homem culpado. Jerusalém fora honrada por Deus acima de toda a Terra. Sião fora eleita pelo Senhor, que a deseja “para Sua habitação” (Salmo 132:13). Ali, durante séculos, santos profetas haviam proferido mensagens de advertência. Sacerdotes ali haviam agitado os turíbulos, e a nuvem de incenso, com as orações dos adoradores, subira perante Deus. Ali, diariamente, se oferecera o sangue dos cordeiros mortos, apontando para o Cordeiro de Deus. Ali, Jeová revelara Sua presença na nuvem de glória, sobre o propiciatório. Repousara ali a base daquela escada mística, ligando a Terra ao Céu (Gênesis 28:12; João 1:51) – escada pela qual os anjos de Deus desciam e subiam, e que abriam ao mundo o caminho para o lugar santíssimo. Houvesse Israel, como nação, preservado a aliança com o Céu, Jerusalém teria permanecido para sempre como a eleita de Deus (Jeremias 17:21-25). Mas a história daquele povo favorecido foi um registro de apostasias e rebelião. Haviam resistido à graça do Céu, abusado de seus privilégios e menosprezado as oportunidades.

Posto que Israel houvesse zombado dos mensageiros de Deus, desprezado Suas palavras e perseguido Seus profetas (II Crônicas 36:16), Ele ainda Se lhes manifestara como “o Senhor Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade” (Êxodo 34:06); apesar das repetidas rejeições, Sua misericórdia continuou a interceder. Com mais enternecido amor do que o de pai pelo filho de seus cuidados, Deus lhes havia enviado “Sua palavra pelos seus mensageiros, madrugando e enviando-lhes; porque se compadeceu de Seu povo e de Sua habitação.” II Crônicas 36:15. Quando admoestações, rogos e censuras haviam falhado, enviou-lhes o melhor Dom do Céu, mais ainda, derramou todo o Céu naquEle único Dom.

O próprio filho de Deus foi enviado para instar com a cidade impenitente. Foi Cristo que trouxe Israel, como uma boa vinha, do Egito (Salmo 80:08). Sua própria mão havia lançado os gentios de diante deles. Plantou-a “em um outeiro fértil”. Seu protetor cuidado cercara-a em redor. Enviou seus servos para cultivá-la. “Que mais se poderia fazer à minha vinha,” exclama Ele, “que Eu não lhe tenha feito?” Posto que quando Ele esperou que “desse uvas, veio a produzir uvas bravas” (Isaías 5:01-04), ainda com esperança compassiva de encontrar frutos, veio em pessoa à Sua vinha para que porventura pudesse ser salva da destruição. Cavou em redor dela, podou-a e protegeu-a. Foi incansável em seus esforços para salvar esta vinha que Ele próprio plantara.

Durante três anos o Senhor da luz e glória entrara e saíra por entre o Seu povo. Ele “andou fazendo o bem, e curando todos os oprimidos do diabo” (Atos 10:38), aliviando os quebrantados de coração, pondo em liberdade os que se achavam presos, restaurando a vista aos cegos, fazendo andar aos coxos e ouvir aos surdos, purificando os leprosos, ressuscitando os mortos e pregando o evangelho aos pobres (Lucas 4:18; Mateus 11:05). A todas estas classes foi dirigido o gracioso convite: “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei.” Mateus 11:28.

Conquanto Lhe fosse recompensado o bem com o mal e o seu amor com o ódio (Salmo 109:05), Ele prosseguiu firmemente em Sua missão de misericórdia. Jamais eram repelidos os que buscavam a Sua graça. Como viandante sem lar, tendo a ignomínia e a penúria como porção diária, viveu Ele para ministrar as necessidades e abrandar as desgraças humanas para insistir com os homens a aceitarem o Dom da vida. As ondas de misericórdia, rebatidas por aqueles corações obstinados, retornavam em uma vaga mais forte de terno e inexprimível amor. Mas Israel se desviara de Seu melhor Amigo e Auxiliador. Os rogos de Seu amor haviam sido desprezados, Seus conselhos repelidos, ridicularizadas Suas advertências. A hora de esperança e perdão passava-se rapidamente, a taça da ira de Deus por tanto adiada, estava quase cheia. As nuvens que haviam estado a acumular-se durante séculos de apostasia e rebelião, ora enegrecidas de calamidades, estavam prestes a desabar sobre um povo criminoso; e Aquele que unicamente os poderia salvar da condenação iminente, fora menosprezado, injuriado, rejeitado e logo seria crucificado. Quando Cristo estivesse suspenso na cruz do Calvário, teria terminado o tempo de Israel como nação favorecida e abençoada por Deus. A perda de uma alma que seja é calamidade infinitamente maior que os proveitos e tesouros de todo um mundo; entretanto, quando Cristo olhava para Jerusalém, achava perante Ele a condenação de uma cidade inteira, de toda uma nação – sim aquela cidade e nação que foram as escolhidas de Deus, Seu tesouro peculiar.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Introdução às abordagens do Livro. Parte II

Depois da maravilhosa manifestação do Espírito Santo no dia de Pentecostes, Pedro exortou o povo a arrepender-se e batizar-se em nome de Cristo, para remissão dos pecados; e disse ele: "E recebereis o dom do Espírito Santo; porque a promessa vos diz a respeito a vós, a vossos filhos e a todos os que estão longe a tantos quanto Deus nosso Senhor chamar." Atos 2:38 e 39.
Em imediata relação com as cenas do grande dia de Deus, o Senhor, pelo profeta Joel, prometeu uma maravilhosa manifestação de Seu Espírito (Joel 2:28). Esta recebeu cumprimento parcial no derramamento do Espírito, no dia de Pentecostes. Mas atingirá seu pleno cumprimento na manifestação da graça divina que acompanhará a obra final do Evangelho.
Mediante iluminação do Espírito Santo, as cenas do prolongado conflito entre o bem e o mal foram patenteadas à autora destes escritos. De quando em quando me foi permitido contemplar a operação, nas diversas épocas, do grande conflito entre Cristo, o Príncipe da vida, o Autor de nossa salvação, e Satanás, o príncipe do mal, autor do pecado, o primeiro transgressor da lei de Deus. A inimizade de Satanás para com Cristo manifestou-se contra os Seus seguidores. O mesmo ódio aos princípios da lei de Deus, o mesmo expediente de engano, em virtude do qual faz o erro parecer verdade, pelo qual a lei divina é substituída pelas leis humanas, e os homens são levados a adorar a criatura em lugar do Criador, podem ser divisados em toda a história do passado. Os esforços de Satanás para representar de maneira falsa o caráter de Deus, para fazer com os homens nutram um conceito errôneo, e assim o considerem com temor e ódio em vez de amor; seu empenho para por de parte a lei divina, levando o povo a julgar-se livre de suas reivindicações e sua perseguição aos que ousam resistir a seus enganos, têm sido prosseguidos com persistência em todos os séculos. Podem ser observados na história dos patriarcas, profetas e apóstolos, mártires e reformadores.
No grande conflito final, como em todas as eras anteriores, Satanás empregará os mesmos expedientes, manifestará o mesmo espírito, e trabalhará com o mesmo fim. Aquilo que foi, será, com a exceção de que a luta vindoura se assinalará por uma intensidade terrível, tal como o mundo jamais testemunhou. Os enganos de Satanás serão mais sutis, seus assaltos mais decididos. Se possível fora transviaria até os escolhidos. (Marcos 13:22).
À medida que o Espírito de Deus me ia revelando à mente as grandes verdade de Sua Palavra, e as cenas do passado e do futuro, era-me ordenado tornar conhecidos a outros o que assim fora revelado - delineando a história do conflito nas eras passadas, e especialmente apresentando-a de tal maneira a lançar luz sobre a luta do futuro, em rápida aproximação. Na prossecução deste propósito, esforcei-me por selecionar e agrupar fatos da história da igreja de tal maneira a esboçar o desdobramento das grandes verdades probantes que em diferentes períodos foram dadas ao mundo, as quais excitaram a ira de Satanás e a inimizade de uma igreja que ama o mundo, verdades que têm sido mantidas pelo testemunho dos que "não amaram suas vidas até à morte"
Nestes relatos podemos ver uma prefiguração do grande conflito perante nós. Olhando-os à luz da Palavra de Deus, e pela iluminação do Seu Espírito podemos ver a descoberto os ardis do maligno e os perigos que deverão evitar os que serão achados "irrepreensíveis" diante do Senhor em sua vinda.
Os grandes acontecimentos que assinalaram o progresso da reforma nas épocas passadas, constituem assunto da História, bastante conhecidos e universalmente reconhecidos pelo mundo protestante; são fatos que ninguém pode negar. Esta história apresentei-a de maneira breve, de acordo com o escopo destes escritos (livro - no original) e com a brevidade que necessariamente deveria ser observada, havendo os fatos sido condensados no menor espaço compatível com sua devida compreensão. Em alguns casos em que algum historiador agrupou os fatos a proporcionar, em breve, uma visão compreensiva do assunto, ou resumiu convenientemente os pormenores, suas palavras foram citadas textualmente; nalguns outros casos, porém, não se nomeou o autor, visto como as transcrições não são feitas com o propósito de citar aquele escritor como autoridade, mas por que sua declaração provê uma apresentação do assunto, pronta e positiva. Narrando a experiência e perspectivas dos levam avante a obra da Reforma em nosso próprio tempo, fez-se uso semelhante de suas obras publicadas. O objetivo destes escritos (livro - no original) não consiste em apresentar novas verdades concernente às lutas dos tempos anteriores, como em aduzir fatos e princípios que sua relação com os acontecimentos vindouros. Contudo encarado como uma parte do conflito entre as forças da luz e as das trevas, vê-se que todos esses relatos do passado têm nova significação; e por meio dele projeta-se uma luz no futuro, iluminando a senda daqueles que, semelhante aos reformadores dos séculos passados, serão chamados, mesmo com perigos de todos os bens terrestres, para testificar "da Palavra de Deus, e do testemunho de Jesus Cristo."
Desdobrar as cenas do grande conflito entre a verdade e o erro; revelar os ardis de Satanás e o meios por que lhe podemos opor eficaz resistência; apresentar uma solução satisfatória do grande problema do mal, derramando luz sobre a origem e a disposição final do pecado, de tal maneira a manifestar-se plenamente a justiça e benevolência de Deus em todo o seu trato com suas criaturas; e mostrar a natureza santa, imutável de Sua lei - eis o objetivo destes escritos (livro - no original). Que mediante sua influência almas possam se libertar do poder das trevas, e tornar-se participantes "da herança dos santos na luz," para louvor dAquele que nos amou e si deu a si mesmo por nós, é a fervorosa oração da autora.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Introdução às abordagens do Livro. Parte I

Antes que o pecado entrasse no mundo, Adão gozava plena comunhão com o seu Criador. Desde porém que o homem se separou de Deus pela transgressão, a raça humana ficou privada desse alto privilégio. Pelo plano da redenção, entretanto, abriu-se um caminho pelo qual os habitantes da Terra podem ainda ter ligação com o Céu. Deus se tem comunicado com os homens mediante seu Espírito; e a luz divina tem sido comunicada ao mundo pelas revelações feitas a Seus servos escolhidos. "Homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo." II Pedro 1:21.
A Escritura Sagrada aponta a Deus como seu autor; no entanto, foi escrita por mãos humanas, e no variado estilo dos diferentes livros apresenta os característicos de seus diversos escritores. As verdades reveladas são dadas por revelação de Deus (II Timóteo 3:16); acham-se contudo expressas em palavras de homens. O Ser infinito, por meio do Seu Santo Espírito, derramou no entendimento e coração de Seus servos. Deu sonhos e visões símbolos e figuras; e aqueles a quem a verdade foi revelada, concretizaram os pensamentos em linguagem humana.
Os Dez Mandamentos foram pronunciados pelo próprio Deus, e por Sua própria mão foram escritos. São de redação divina e não humana. Mas, a Escritura Sagrada, com suas divinas verdades, expressa em linguagem de homens, apresenta uma união do divino com o humano. União semelhante existiu na natureza de Cristo, que era o Filho de Deus e o Filho do Homem. Assim é verdade com relação à Escritura, como o foi em relação a Cristo, que "o Verbo se fez carne e habitou entre nós." João 1:14.
Em Sua Palavra, Deus conferiu aos homens o conhecimento necessário à salvação. As Santas Escrituras devem ser aceitas como autorizada e infalível revelação de Sua vontade. Elas são a norma do caráter, o revelador das doutrinas, a pedra de toque da experiência religiosa. "Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra." II Timóteo 3:16 e 17.
Todavia, o fato de que Deus revelou Sua vontade aos homens por meio de sua palavra, não tornou necessária a contínua presença e direção do Espírito Santo. Ao contrário o Espírito Santo foi prometido por nosso Salvador para aclarar a Palavra a Seus servos, para iluminar e aplicar os seus ensinos. E visto ter sido o Espírito de Deus que inspirou a Escritura Sagrada, é impossível que o ensino do Espírito seja contrário ao da Palavra.
O Espírito não foi dado - nem nunca poderia ser - a fim de sobrepor-Se à Escritura; pois esta declara ser ela mesma a norma pela qual todo ensino e experiência devem ser aferidos. Diz o apóstolo João: não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, por que já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo" I João 4:1. E Isaías declara: "À Lei e ao Testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, não haverá manhã para eles" Isaías 8:20.
Em harmonia com a Palavra de Deus, deveria Seu Espírito continuar Sua obra durante todo o período da dispensação e evangélica. Durante os séculos em que as Escrituras do Velho Testamento bem como as do novo estavam sendo dadas, o Espírito Santos não cessou de comunicar luz a mentes individuais, independentemente das revelações a serem incorporadas no cânnon sagrado. A Bíblia mesma relata como mediante o Espírito Santo, os homens receberam advertências, reprovações, conselhos e instruções, em assuntos de nenhum modo relativos à outorga das Escrituras. E faz-se menção de profetas de épocas várias, de cujos discursos nada há registrado. Semelhantemente após a conclusão do cânon das Escrituras, o Espírito Santo ainda deveria continuar a Sua obra, esclarecendo, advertindo e confortando os filhos de Deus.
Jesus Cristo prometeu a seus discípulos: "Quando vier aquele Espírito de verdade, Ele vos guiará em toda a verdade;... e vos anunciará o que há de vir" João 16:13. As Escrituras claramente ensinam que estas promessas, longe de limitarem aos dias apostólicos, se estendem à igreja de Cristo em todos os séculos. O Salvador afirma aos Seus seguidores: "Estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos." Mateus 28:20. E Paulo declara que os dons e manifestações do Espírito foram postos na igreja para "o aperfeiçoamento dos, para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo." Efésios 4:12 e13.

O Livro O Grande Conflito de Ellen G. White

A partir de agora aqueles que acessarem este Blogger terão uma descrição do livro O Grande Conflito de Ellen G. White.
Boa aprendizagem profética.